Stephen King é uma fonte inesgotável de inspiração para o cinema e TV desde 1976, quando o diretor Brian de Palma adaptou Carrie, com roteiro de Lawrence D. Cohen. Mas o que explica este movimento contínuo? As obras do escritor são atuais e tratam das mazelas humanas, utilizando fantasmas, pessoas com poderes psíquicos e portas (não apenas aquelas convencionais que você tem em casa) para outras dimensões, como pano de fundo.
O universo criado pela imaginação privilegiada de King te apresenta o medo em diferentes níveis. Os monstros fictícios servem para, muitas vezes, revelarem aqueles que realmente vão te fazer mal. Esqueça o palhaço assassino de IT. São adultos abusivos, colegas de escola sádicos, pais desajustados… Cenários reais e atuais.
Carrie pode até ter poderes telecinéticos, mas, lá em 1974, quando seu livro foi publicado, King, na verdade, já tratava do bullying. Pedras caíram do céu para exemplificar o sofrimento da menina que, enfim, conseguiu sua vingança contra os colegas de escola que insistiam em humilhá-la.
A luta para eliminar uma entidade maligna pode até ser o tema central da trama. Mas a presença de Beverly Marsh em IT coloca o dedo na ferida do machismo intrínseco na sociedade e joga luz na situação dos abusos sexuais feitos por familiares.
Mas não basta ter livros atemporais. King escreve de si mesmo. O sentimento verdadeiro que ele coloca em suas obras aumenta o nível de realismo mesmo no meio de tanta fantasia. Ele descreve tão bem os sofrimentos físicos e psicológicos dos personagens porque viveu algumas das situações, com uma infância traumática, convivendo com um lar desfeito (foi abandonado pelo pai) e problemas financeiros.
O pai alcoólatra e violento de O Iluminado nada mais é que uma maneira encontrada por King para justificar a ausência da figura paterna. Mais uma vez um problema social por de trás de uma história de um garoto com poderes paranormais e assombrações, que, na realidade, não passam de delírios da mente de Jack Torrance.
Outro facilitador é que King tem uma escrita bastante descritiva. Ele fornece todos os detalhes do ambiente e dos personagens para o leitor mergulhar, sem medo, em seu universo. Claro que, muitas vezes, sua viagem para lugares distantes, seja em mundos dentro de quadros ou mulheres que se transformaram em casulos e vão para uma realidade alternativa, desafiam uma adaptação.
A Torre Negra, uma obra-prima com sete volumes – além de um livro adicional -, foi uma tentativa frustrada de levar o universo King para o cinema. As nuances de suas histórias precisam ser compreendidas antes de tiradas do papel e levadas para as telonas.
A verdade é que King, com o passar dos anos, se tornou cult. E Hollywood não resiste em revisitá-lo neste universo próprio muitas e muitas vezes.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.