Spike Lee não faz segredo – se dependesse dele, Steve McQueen seria o grande vencedor do próximo Oscar. “12 Years a Slave é o melhor filme do ano”, ele afirma, referindo-se ao novo drama do diretor de Hunger e Shame, que reabre a vertente da escravidão em Hollywood. “Steve fez para os negros o que Steven Spielberg fez para os judeus, ao realizar A Lista de Schindler, sobre o Holocausto.” O grande mérito de Steve McQueen, segundo o diretor, foi ter feito seu filme a sério, com a intensidade e o pathos que faltavam ao outro filme recente sobre o assunto.

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Como Oscar Wilde, que falava no amor que não ousava dizer seu nome (o homossexualismo), Spike fala desse outro filme sem citar. O repórter brinca – o spaghetti western? Ele segue no tom – “Yea, Sergio Leone…” O filme é Django Livre, de Quentin Tarantino. “A escravidão não é brincadeira para ser tratada daquele jeito. A América não teria se transformado numa potência sem a exploração dos negros. Tem uma dívida histórica conosco”, avalia.

Lee conversa com o repórter num hotel chique de Ipanema. Com ele está Seu Jorge. A LG está lançando uma nova plataforma virtual. Chamou Seu Jorge para ser seu garoto propaganda. Encomendou-lhe uma música. A ideia da música evoluiu para um clipe, e aí entrou Spike Lee. Quase 20 anos depois do clipe com Michael Jackson em 1996, Spike Lee volta aos morros cariocas. “O governo não queria Michael no Brasil. Achavam que mostrar a pobreza era parte de um complô para derrubar o governo brasileiro. Tivemos de negociar com os traficantes, porque o governo não tinha nenhum controle sobre a favela (o Santa Marta).”

Seu Jorge só tem elogios para ele. Ambos têm orgulho da negritude. “Minha mãe tinha ascendência da Serra Leoa; meu pai, de Camarões”, diz Lee. “Meu pai também descendia de camaroneses. Minha mãe, de europeus”, conta Seu Jorge. “Somos irmãos!”, proclama Lee. No fim de semana, ele viveu momentos mágicos na casa da produtora Paula Lavigne, numa reunião proposta por Seu Jorge. Milton Nascimento, Caetano Veloso, Martinália etc. “Amo a música brasileira”, diz o cineasta, entusiasmado pela parceria com Seu Jorge. Uma palavrinha sobre a polêmica das biografias. “Não conheço o caso no Brasil, mas quando fiz Malcolm X o produtor comprou os direitos da viúva e fiz o filme com toda liberdade. É o que se espera de artistas trabalhando sobre figuras públicas.” Sobre o remake de Oldboy, de Park Chan-wuk, que estreia em março, diz: “É um grande filme, e eu queria muito filmar com Josh Brolin. Saiu forte.”

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.