La Palme (de)culotée – A Palma sem calcinhas de Abdellatif Kechiche virou manchete dos principais jornais franceses, dividindo as capas com as manifestações de anteontem em Paris, contra e a favor o casamento gay. Os franceses ainda não se recuperaram do choque que foi ver Dominique Strauss-Kahn, o ex-presidente do Banco Mundial – que protagonizou escândalo de assédio sexual -, fazer a montée des marches do maior festival do mundo. Ontem (27) ainda se comentava como DSK conseguiu seu convite sem que ninguém da imprensa soubesse, mas o assunto dominante era a audaciosa decisão de Steven Spielberg e seus jurados, avaliando as gráficas cenas de sexo entre Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux.

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Elas parecem tão reais – na entrevista que deu à reportagem, Adèle repetiu com alguma exasperação que c’était faux, era falso. Ela faz questão de dar seu apoio ao casamento entre iguais, mas também de deixar claro que não é sua praia. Adèle, de resto, dedicou o prêmio a seu amor – e ele estava na plateia, sentado com os pais dela. Le Figaro, Libération, Nice Matin. A vitória da França foi saudada com uma revanche do cinema e da juventude franceses. No palco do Grand Theatre Lumière, Kechiche já havia dedicado seu filme aos jovens, ao seu “espírito de liberdade e vivre ensemble”, que deveria servir de farol para a sociedade inteira.

Velhas histórias foram lembradas, como a de que, anos atrás, o diretor artístico de Cannes, Thierry Frémaux recusara La Graine et le Moulet, O Segredo do Grão, também de Kechiche, e desta vez, como para se redimir, aceitou A Vida de Adèle praticamente na véspera do anúncio da seleção oficial. Como se resumindo o sentimento geral, Philippe Dupruy escreveu, em Le Nice Matin, que era preciso agradecer a Spielberg não apenas por essa lição de cinema, mas também de civilidade. “Thank you, Mr. Spielberg, este belo filme mostra a importância de viver livremente, de se expressar e amar livremente.”

Para Le Figaro, foi um Palmarès “de cortar o fôlego” e o enviado do jornal à Croisette, Eric Neuhoff, disse que o presidente do júri, suspeito de puritanismo, surpreendeu todo mundo com sua Palma erótica e passional. Na coletiva do júri, após a premiação, ao mesmo tempo que minimizava a dimensão política da escolha, M. le Président deixou claro que todos os jurados são artistas e, como tal, têm sensibilidade para entender e aceitar a carga de paixão que Kechiche e suas atrizes colocam na tela. Júri, aliás, fez história outorgando uma Palma tríplice. Em anos anteriores, o prêmio atribuído algumas vezes ex-aequo, ou seja, dividido em dois, mas Spielberg e seus jurados dividiram a Palma em três, entre Kechiche e suas atrizes.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.