SP recebe mostra de Ana Elisa Egreja

Aos 30 anos, a pintora paulistana Ana Elisa Egreja é movida pela obsessão. Detalhista, é capaz de passar dois meses diante de uma tela para reproduzir com fidelidade a incidência da luz de um abajur sobre o papel de parede.

Quando não está pintando, está diante de outra tela, a do computador, armazenando imagens digitais que mais tarde vai usar. De dois anos para cá, deu para pintar casas abandonadas. Entrou no Google e viu centenas delas em ruínas. Seus moradores haviam morrido ou abandonado o lar.

Ana Elisa, então, decidiu restituir vida a essas casas. O resultado pode ser visto em sua primeira exposição individual na Galeria Leme, aberta sábado, 23, com o lançamento de um livro sobre sua obra pela Editora Cobogó.

As casas abandonadas trazem vestígios da passagem humana por elas, como na tela Casa Rosa, em que embalagens de bombons se espalham pelo piso ao lado de um sofá, cuja cor combina com elas e a paisagem que se vê da janela. Com todo esse excesso, a impressão é de que se trata de uma elegia ao camp. E é mesmo.

Camp já foi definido pela ensaísta Susan Sontag como um código particular difícil de descrever, mas fácil de identificar. Luminárias Tiffany, óperas de Bellini e boás de plumas são apenas alguns exemplos.

A decoração das casas abandonadas de Ana Elisa poderia estar na lista, ao lado de toda a chinoiserie que deu origem ao camp no século 18. A pintora, cuja técnica excepcional a projetou como uma das principais de sua geração, poderia rigorosamente pintar qualquer objeto. Todo o zoológico que invade as casas abandonadas de Ana Elisa, os azulejos, sofás e almofadas são apenas pretextos para a pintura. Ela ainda vai ser abstrata.

Ana Elisa ri ao ouvir isso. Ela, que ama a exuberância das odaliscas de Ingres e a folia cromática de Matisse, acabar na turma de Agnes Martin (1912-2004)? Sim. Vale lembrar que também a minimalista canadense começou com pinturas biomórficas, destruindo todas elas ao ser estimulada por Barnett Newman a embarcar na nau dos abstratos.

Aluna de Paulo Pasta, ela cria cenas insólitas apenas para chegar à essência cromática. “Gosto de criar narrativas com essas imagens que busco na internet, como se fossem colagens.” E elas, na exposição da Leme, incluem um cisne numa banheira (pretexto para pintar suas penas através do vidro) e uma sala com vitrais de igreja. É possível ver nessas telas ecos de um surrealismo tardio (na tela Honeymoon, de 2010, um urso panda lê jornal ao lado de dois macacos safados), mas ela argumenta que os bichos apenas sublinham a ausência humana. “Acho divertido imaginar uma casa com almofadas que reproduzem quadros de Giotto e espelhos de Van Eyck.”

ANA ELISA EGREJA – Galeria Leme. Avenida Valdemar Ferreira, 130. 2ª a 6ª, das 10 h às 19 h; sáb., das 10 h às 17 h. Até 21/12.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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