No dia 19 de outubro, a Prefeitura abriu, em seu site oficial, cadastros para os blocos que desejam desfilar pelas ruas de São Paulo no carnaval de 2015. O registro é gratuito e permite às subprefeituras melhor organização para acomodar as demandas de cada grupo: distribuição, agenda, trajeto, interdições de vias, necessidade de acompanhamento policial e fornecimento de banheiros químicos. Até esta quarta-feira, 29, 51 blocos já estavam cadastrados. O prazo termina no dia 17 de novembro.
2014 tornou-se o ano com maior público carnavalesco contabilizado pela Secretaria Municipal de Cultura: mais de 2 milhões foliões espalhados por praças, viadutos, ruas e vielas da capital embalados por mais de 200 blocos de rua. Para 2015, a expectativa é de crescimento.
“A iniciativa de organizar o carnaval de rua da cidade foi uma demanda vinda dos próprios organizadores, por meio do Manifesto Carnavalista”, informa em nota a Secretaria da Cultura. No manifesto, cinco pontos são os pilares do discurso dos carnavalescos: “Direito à alegria”, “direito à folia”, “importância da valorização e afirmação de uma tradição cultural paulistana”, “ocupação do espaço público como exercício da cidadania” e “carnaval de rua e a economia criativa”.
Desde a chegada do secretário Juca Ferreira à pasta, em 2013, abriram-se diálogos com os principais representantes do manifesto e o início da negociação para definir quais seriam os trâmites necessários para regularizar os blocos.
A Prefeitura e Secretaria de Cultura estão cada vez mais próximas para entender como podemos construir o carnaval de rua de São Paulo, mas por enquanto não há um investimento financeiro direto nos blocos”, conta um dos organizadores do recém nascido bloco ‘Tarado ni Você’, Rodrigo Guima. O bloco dos “tarados”, como chamam, teve suas primeiras edições neste ano em São Paulo e se destacou pelo número de foliões alcançados. “Tem uma vontade enorme surgindo nas pessoas de ocupar os espaços públicos com seus corpos, vozes e corações. O ‘Tarado ni Você’ nasceu junto com isso”, conta Guima.
Rodrigo Fernandes Bento, idealizador de outro bloco um pouco mais maduro, o da festa Pilantragi, também sente o boom dos adeptos à folia de rua. “Em 2013 o bloco levou cerca de 1.700 foliões para a rua. Em 2014, esse número aumentou para quase 15 mil pessoas na primeira saída, em Perdizes, e 5 mil na segunda saída, no Bixiga”, detalha.
Um dos blocos mais tradicionais do Rio de Janeiro, o Bangalafumenga, viu no cenário urbano de São Paulo a chance de disseminar a folia e também aumentar o número de seu fiel e sempre volumoso público. “Em 2013 tivemos um público estimado de 25 mil na Rua Fidalga, na Vila Madalena. Em 2014, fomos para a Av. Paulo VI, a Sumaré, e lá reunimos em torno de 80 mil pessoas”, informou por meio de assessoria de imprensa.
E quando há muita procura, há de se aumentar a oferta. Júlia Mendonça é produtora da Festa Odara, conhecida há oito anos pelo repertório de música brasileira, e vê no carnaval de rua uma oportunidade de a festa aumentar a clientela do evento. “Os blocos são muito democráticos e qualquer um pode participar porque não há fins lucrativos, só a vontade de dividir com todos a alegria do carnaval que é contagiante e cheia de amor. Por isso pensamos muito em colocar a Odara nas ruas no ano que vem”, revela.
O aumento do acesso à Prefeitura e a diminuição dos entraves burocráticos para colocar um DJ nas ruas fez crescer a vontade de criar o possível Bloco Odara. “A gente sempre teve vontade de montar um bloco, mas fazer tudo dentro da lei era trabalhoso. Para o ano que vem já estamos marcando reuniões e parece que vai dar certo”, conta.
Investimentos. Colocar um bloco de carnaval nas ruas não é tarefa fácil e o maior dos trâmites enfrentado pelos realizadores das festas é viabilizar o entretenimento com a qualidade desejada. Diferente das escolas de samba, que recebem incentivo público para financiar toda a produção da maior festividade do País nas avenidas, o carnaval de rua tem que ter samba no pé na hora de arrecadar fundos.
O Bloco Tarado Ni Você é realizado através de crowdfunding (financiamento coletivo). “A gente acredita muito nesse movimento, que é diferente de doação. É um investimento, afinal de contas as pessoas vão desfrutar daquilo”, explica Guima. Em 2014, os “tarados” arrecadaram cerca de R$38 mil via financiamento coletivo. Já o Pilantragi é realizado com a renda conquistada pelas festas semanais homônimas e incentivo de organizações culturais locais. “Nas duas últimas edições do Bloco Pilantragi gastamos em média 10 mil reais”. O Bloco Bagalafumenga não quis divulgar os números de investimento, mas afirmou que toda a verba para contratação de seguranças privados, profissionais de limpeza particular, lixeiras, pagamento de taxa para a CET fornecer sinalização e fechamento rua e produção do bloco vem do investimento de patrocinadores.
O público, apesar de satisfeito com a folia, quer mais. O relações públicas Marcelo Bagdanavicius, de 28 anos, frequenta as ruas de São Paulo durante o feriado do carnaval há três anos. Para ele, infraestrutura e logística são os maiores desfalques. “Precisamos de mais banheiros, guardas para coordenar as vias próximas para quem anda de carro, organizar informações para os moradores de onde passarão os blocos e ambulantes legalizados”, pede o folião.
“A festa popular mais conhecida do Brasil não pode acabar por falta de estrutura e de investimento público. Essa é a hora de reconhecer a sua importância e de desenvolver junto às comunidades saídas para que o impacto seja mais positivo do que negativo”, finaliza Rodrigo Bento.