No Dia Mundial da Fotografia, a SP-Arte/Foto abre suas portas para convidados nesta quarta-feira, 19, no terceiro piso do Shopping JK Iguatemi, revelando em sua nona edição uma tendência do mercado editorial: a publicação de fotolivros, que fogem ao padrão gráfico tradicional e são concebidos como obras de arte, objetos autorais. São nada menos que 11 títulos de fotógrafos lançados na feira, entre eles Serra do Amolar, com imagens registradas por Sebastião Salgado por ocasião de seu projeto Gênesis, e A Grande Seca, de Ronald Ansbach. Com oito volumes em seu catálogo, a editora Madalena estreia na SP-Arte/Foto sua série Pequenos Formatos, livros com 16 páginas e lâminas soltas (para serem emolduradas), de tiragem limitada (200 exemplares).

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Quatro livros da nova série criada pela Madalena terão lançamento durante o evento, além dos volumes de Salgado e Ansbach. São eles: Cactoceae, de Cláudia Jaguaribe, Carta a Larraín, Valparaíso, de Pio Figueiroa, Hominini, de Lucas Lenci, e Motobaik, de Cristian Rodríguez. Além dos já citados, serão lançados livros de Cristiano Mascaro, Miguel Rio Branco e Roberto Linsker, todos eles representados por seus trabalhos na feira, que viu crescer este ano o número de galerias. São 31 delas, de cinco Estados brasileiros, trazendo nomes consagrados de fora – Ballester, Thomas Hoepker, Candida Höfer, Koudelka e Martin Parr, entre outros – e brasileiros – da velha geração, como German Lorca, ainda ativo, aos 93 anos, e da nova, como Julio Bittencourt.

Um dos destaques da feira deste ano é a exposição em homenagem ao centenário de nascimento do fotógrafo e cinegrafista francês Jean Manzon (1915-1990), responsável pela renovação do fotojornalismo brasileiro ao formar dupla com o repórter David Nasser na revista O Cruzeiro, entre 1943 e 1951. Não eram só os closes e os ângulos insólitos que marcaram sua fotografia, que, de resto, não tinham compromisso com a verdade jornalística. Manzon montava escandalosamente suas fotos. Fazia, à sua maneira, um new journalism tupi, sempre tentando agradar aos poderosos. Ele foi, evoque-se, o preferido do ditador Getúlio Vargas. Em 1964, durante a ditadura militar, fez igualmente o elogio do regime dos generais em seus cinejornais.

São dessa época as melhores imagens selecionadas pela galeria Fass para a mostra: a da jovem atriz Odete Lara desfilando no Copacabana Palace (nos anos 1940), a do recém-inaugurado Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, projeto moderno (1947) inspirado na arquitetura de Le Corbusier, e uma cena no interior da antiga sede do Masp (anos 1950) no centro de São Paulo, além do primeiro registro dos índios do Xingu. Outra curiosidade na mostra de Manzon: um raro retrato do artista Bispo do Rosário com um de seus mantos na colônia Juliano Moreira, para doentes mentais, em 1960.

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A mesma galeria traz para o Brasil fotos vintage do alemão Willy Zielke (1902-1989), mais conhecido por ter realizado um documentário histórico, Arbeitlos (1932), sobre o desemprego operário na República de Weimar. Zielke era apaixonado (e rejeitado) pela cineasta Leni Riefenstahl, a preferida de Hitler, e esteve por trás das câmeras de seu filme O Triunfo da Vontade (1935). Confinado num hospício pelo regime nazista, ele foi libertado com a chegada dos Aliados. Suas fotos são de uma delicadeza morandiana.

Entre as novas galerias que estão na SP-Arte Foto, a Casa Nova, dirigida por Adriano Casanova, reúne fotos de três mulheres fotógrafas: Claudia Jaguaribe, Lina Kim e Renata Padovan. “O número de colecionadores cresceu e o mercado acompanha essa evolução com novas galerias, oferecendo fotos de artistas emergentes a preços mais acessíveis”, observa a diretora da feira, Fernanda Feitosa.

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Um desses artistas é Cristina de Middel, representada pela galeria Gávea. Meio espanhola, meio belga, Cristiana, de 40 anos, vive na França. Seu trabalho de fotojornalista a levou às mais remotas regiões do globo. Na feira, ela mostra uma série engraçada, Afronanautas, baseada num experimento maluco desenvolvido na República de Zâmbia em 1964: um projeto espacial em plena África austral. Middel, a exemplo de Manzon, monta cenas artificiais com africanos vestidos de astronautas ao lado de elefantes. Já o inglês Martin Parr não precisou ir tão longe para achar tipos bizarros. Como sempre, foi só perseguir a classe média nas praias, como mostra na galeria Lume.

Além das fotos nas galerias, a SP-Arte/Foto promove paralelamente um ciclo de palestras, tendo como convidada especial a curadora de fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), Sarah Hermanson Meister, que deve falar sobre a formação do acervo da instituição, uma das raras a incluir, já em 1942, a fotografia em sua coleção, que tem alguns brasileiros representados na feira (Alair Gomes, Thomas Farkas).

Entre outros palestrantes convidados, o curador Iatã Canabrava vai falar sobre o fenômeno dos fotolivros. O pesquisador Rubens Fernandes Junior analisa em sua palestra como a edição de imagens pode ensinar o espectador a ver – e apreciar – a arte fotográfica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.