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SP-Arte: Antonio Malta Campos retorna com nova mostra na Leme

Para a segunda individual na galeria Leme, o paulistano Antonio Malta Campos, arquiteto de formação, quis enfrentar de outra forma o edifício brutalista assinado por Paulo Mendes da Rocha. A construção cinzenta de concreto, com um pé-direito de dez metros, marca não somente o entorno do bairro do Butantã, mas termina por se inscrever como mais um projeto realçado da “arquitetura paulista”. Neste caso, assinada por um ganhador do Prêmio Pritzker, o mais prestigiado da área em âmbito mundial.

“Sabia que a galeria tem uma característica muito propositiva em sua arquitetura. Se não tomasse cuidado, o projeto engoliria as pinturas que estou exibindo”, conta o artista, 56 anos, graduado nos anos 1990 em outro projeto-chave da cidade, a FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), de autoria do arquiteto Vilanova Artigas (1915-1985).

Na primeira individual na Leme, em novembro de 2016, Malta utilizou uma expografia que utilizava as vigorosas paredes da sala principal da galeria em um tom panorâmico, por onde a montagem contínua e horizontal dava um caráter mais linear às inéditas (à época) aquarelas do artista, intercaladas por trabalhos na mesma linguagem realizados por Ana Elisa Egreja, Dudi Maia Rosa, Jac Leirner e Rodrigo Andrade. “Havia uma dimensão afetiva no convite, o que dava a toda a mostra um dado de frescor que me agradava”, diz ele. “Agora, a experimentação teria de ser outra.”

Assim, nasceu a exposição de agora, que segue na galeria até 12 de maio (pinturas do artista também estão no estande da Leme na SP-Arte). Malta, então, optou por uma disposição “fenomenológica”, em que oito das nove pinturas ficam penduradas. Para o público observar as obras, cria um percurso próprio no meio dos trabalhos. Relações cromáticas, de volumes e contornos exibidos pelos quadros, dependem, fundamentalmente, de como cada um percorre o espaço expositivo. “O visitante faz o trajeto que deseja e, caminhando, emplaca um diálogo com os variados tratamentos de cada trabalho. Surgem ligações de cores, formas, linhas e texturas”, diz ele. “Assim, perceber o verso das telas, por exemplo, o que não é usual, faz parte da experiência gerada por essa disposição.” Ao fundo, o díptico Profundo, maior presença da exposição, se espalha por seus 2,30 m x 3,60 m numa das paredes da sala. É uma das obras que explora mais cores escuras, assim como, evidentemente, Preto.

No recorte, contudo, Malta parece se divertir em utilizar cores de uma escala cromática mais artificial. “É engraçado você comentar isso. Telas como Verde e Mickey têm certamente esse dado mais ruidoso”, afirma o artista. “Mas, por exemplo, fiz uma mostra recente em Madri em que explorava somente preto, branco e ocre.” A mostra de novembro passado na galeria F2, sua estreia em individuais na Europa, se destacou em especial pela releitura particular feita pelo artista a respeito das vanguardas históricas, bastante conhecidas e exibidas nas coleções de peso, institucionais e privadas, da capital espanhola. “Se eu começar a falar de Picasso, com certeza vou cansá-lo”, brinca.

“Na trajetória de Antonio Malta Campos, iniciada em meados dos anos 1980, observa-se uma pesquisa plástica contínua em torno do desenho e da pintura, valendo-se de um amplo repertório visual que se estende desde os paradigmas artísticos modernistas até as linguagens da cultura de massa”, escreve o crítico Diego Matos sobre a participação do artista paulistano na 32ª Bienal de São Paulo, que vem a ser seguramente a principal mostra em grande escala de Malta.

Na mostra, ocorrida em 2016, o trunfo do artista foi o impactante conjunto intitulado Misturinhas, em que dezenas de trabalhos de pequena escala, com experimentações gráficas resultantes do uso de nanquim, lápis de cor, guache e caneta, entre outros materiais, se mesclavam a imagens “do mundo”, como impressos de ordem diversa, adesivos e publicidade. Além das Misturinhas, pinturas de tamanho generoso de sua autoria foram apresentadas na mostra, que tinha proximidade com os trabalhos da paulistana radicada no Rio Vivian Caccuri, do baiano José Bento e do brasiliense Dalton Paula, num momento inspirado da curadoria do alemão Jochen Volz. “É uma exposição de grande visibilidade, mas você tem de se mexer para que o trabalho apareça”, avalia Malta.

Grande tela

Malta é egresso dos anos 1980 e fez, bem ao início, em 1982, parte do lendário grupo Casa 7, que renovou o cenário da pintura de SP na década – Carlito Carvalhosa, Fabio Miguez, Paulo Monteiro, Nuno Ramos e Rodrigo Andrade, em 1985, consagrariam sua importância no período participando da 18ª Bienal de São Paulo de 1985, capitaneada por Sheila Leirner e conhecida como A Grande Tela. “Éramos todos amigos, estudávamos juntos no Equipe. Saí antes disso, quando o grupo terminou explodindo, no sentido de visibilidade. Estava com problemas pessoais, em crise, e não pude aproveitar isso.”

Produzindo quase silenciosamente e atuando como arquiteto, o artista não abandonou o trabalho de ateliê e foi “redescoberto” em 2012, quando o curador José Augusto Ribeiro (hoje na Pinacoteca do Estado), à época na seção de artes visuais do CCSP (Centro Cultural São Paulo), apresentou suas telas junto dos tridimensionais de apurada estranheza feitos por Erika Verzutti. Quatro anos depois, curiosamente, ambos estariam juntos na 32ª Bienal de São Paulo. “Foi uma mostra muito corajosa do José Augusto, pois eu estava completamente fora de evidência”, acredita Malta, hoje bem longe do ostracismo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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