Soul Brasil: trajetória do movimento black no País

Os anos 60 foram marcados pelo sentimento libertário e pela luta do movimento negro, nascido na América, e que não demorou para desembarcar no Brasil. Provavelmente, foi nesta década que o mundo conheceu o verdadeiro sentido da palavra consciência negra.

Na política, o carisma de líderes como Martin Luther King e Malcom X arregimentavam multidões. Os cabelos black power ditavam a moda, não como um estilo puro e simples, mas como a maneira encontrada para demonstrar o orgulho e a união da raça em todo o planeta. Na seara musical, a soul music surge como uma autêntica manifestação da cultura negra e um dos ritmos que mais influenciou a música brasileira no início dos 70s. Quase 40 anos depois, a Som Livre lança a coletânea Soul Brasil, um retrato fiel da soul music no País, com gravações originais de artistas que entraram para a história musical brasileira.

Se os EUA tinham James Brown, Aretha Franklin, Marvin Gaye e Jackson Five, o Brasil não ficava devendo nada aos co-irmãos da terra do Tio Sam. De 70 pra cá, o País viu surgir expoentes da soul music, assumidamente influenciados pelo contagiante balanço negro americano. Em Soul Brasil, a Som Livre apresenta hits originais dos principais artistas deste movimento: Tim Maia, Wilson Simonal, Gerson King Combo, Cassiano, Jorge Benjor (naquele tempo, Jorge Ben), Lady Zu, Di Melo, Banda Black Rio, até os contemporâneos Sandra de Sá, Ed Motta, Farofa Carioca, Seu Jorge, Funk Como Le Gusta e Grooveria Eletroacustica.

O suingue e a malandragem característicos de Wilson Simonal são facilmente identificados em Nem vem que não tem (Alegria, alegria, 1967). A música faz sucesso até hoje tanto que foi tema de propaganda de uma multinacional fabricante de material esportivo. A presença afro de Noriel Vilela é impressa em 16 toneladas (Sixteen tons) (1969, 1969), versão nacional para o clássico americano Sixteen tons, e que voltou às paradas de sucesso recentemente, com a banda Funk Como Le Gusta. Dom Salvador e Abolição, grupo composto exclusivamente por músicos negros e o responsável pela criação do movimento musical Black Rio, interpreta Uma vida (Som, sangue e raça, 1971). Os alquimistas estão chegando, um clássico de Jorge Ben, lançado em Tábua de Esmeralda (1974), um dos discos mais reverenciados pelos fãs do ritmo. O disco, inclusive, é considerado pela crítica um divisor de águas da soul music no País.

Sua musicalidade, originalidade e excentricidade fazem do ?Síndico? Tim Maia uma referência na soul music brasileira. A influência e a intimidade com a black music vêm da época em que, aos 17 anos, morou nos EUA. Lá, iniciou carreira como vocalista de um conjunto chamado The Ideals. De volta ao Brasil, Tim chegou a ser professor de violão dos tremendões Roberto e Erasmo Carlos, e logo começou a compor no estilo que havia ouvido na América. Bom senso é do disco Tim Maia Racional (1975) até hoje cultuado por colecionadores.

Pode-se dizer que o movimento Black Rio foi o protótipo brasileiro do Black Power. Combo, conhecido como o James Brown brasilero, canta Mandamentos Black (Gerson King Combo, 1977), um hino em defesa do orgulho e dos direitos dos negros. Recentemente, Marcelo D2 usou um trecho da letra em uma de suas músicas: ?Andar como anda um black, falar como fala um black…?. Maria Fumaça (Maria Fumaça, 1977) é a música mais emblemática da banda Black Rio, a semente da soul music brasileira.

Serviço:
Soul Brasil (Som Livre) – CD -Preço sugerido: R$ 27,90 -Total de faixas: 15

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo