“Sonhos Roubados” retrata a adolescência na periferia

A favela é um dos cenários mais visitados pelo cinema nacional. Produções como “Cidade de Deus” (2002), “Tropa de Elite” (2007) e “Última Parada 174” (2008) utilizam as comunidades cariocas como ponto central de seus enredos. Em comum, a abordagem masculina de situações complexas envolvendo as comunidades, o tráfico de drogas e a violência. O filme “Sonhos Roubados”, que entra em cartaz hoje, lança um olhar feminino sobre essa realidade. Sandra Werneck (“Cazuza” e “Amores Possíveis”) assina a direção.

Inspirada no livro “As meninas da Esquina”, de Eliane Trindade, a produção acompanha um ano na vida de três adolescentes: Jéssica (Nanda Costa), Daiane (Amanda Diniz) e Sabrina (Kika Farias). As garotas são colegas de escola e vivem numa comunidade carioca. Embora não sejam prostitutas profissionais, fazem programas ocasionalmente, para pagar as contas de casa e realizar alguns desejos de consumo.

Para Sandra, mais do que um filme de favela, “Sonhos Roubados” trata do ser humano. “Meu cinema se interessa pelas relações interpessoais. Essas meninas estão por aí, são a nova geração de brasileiras”, diz. Uma das personagens é a órfã Jéssica, 17 anos. Ela vive com o avô e se prostitui para sustentar a filha, mas quase perde a guarda da criança exatamente, por não ter um emprego fixo. Nanda Costa, que interpreta a Soraia em “Viver a Vida”, diz ter deixado os preconceitos de lado para viver a personagem. “Quis contar da forma mais verdadeira possível, sem julgar o comportamento dela”, diz a atriz, premiada no festival do Rio no ano passado. Já a amiga Sabrina se apaixona por um traficante, engravida e acaba nas ruas. Enquanto Daiane, 14 anos, mora com a tia e um tio, de quem sofre abusos sexuais.

O filme retrata um contexto dramático, mas não faz isso de forma exagerada. Por pior que estejam as vidas das meninas, a sensação não é de que os sonhos foram roubados para sempre. Há a expectativa de que elas ainda podem dar a volta por cima. Ângelo Antônio, que vive o pai de Daiane, destaca a garra das personagens. “O que fica do filme é a força e amizade dessas garotas”, diz ele.

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