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Sonhos de ‘Annie’

Miguel Falabella e Ingrid Guimarães conversavam animadamente sobre a estreia de Annie, o Musical, luxuoso espetáculo que iniciou carreira nesta quinta-feira, 30, no Teatro Santander, quando foram surpreendidos por algumas das 21 crianças que também participam da peça – alegres e ruidosas, elas encheram o ar com seu vozerio, uma mistura de cantorias de músicas do espetáculo com conversas aleatórias. “Essa é a essência de um musical”, observou Falabella, encantado. “Estimular a felicidade do espectador e, para conseguir isso, elenco e produção têm de também ter essa sensação.”

Ingrid seguiu como mantra essa recomendação desde seu primeiro ensaio, em julho – estreante em musicais, a comediante responsável por milionárias bilheterias no cinema brasileiro aprendeu a utilizar seu humor de uma forma diferente. “O grande momento para um humorista é o improviso, mas isso pode atrapalhar, até arruinar um musical, no qual tudo é milimétrico”, disse ela. “Mesmo assim, Miguel me incentivou a aproveitar as brechas e incluir novidades. Ele sempre me disse para não ter medo em busca do extremo.”

Uma das novidades é uma queda repentina, que Ingrid aperfeiçoou para o momento em que seu personagem é confrontado pela secretária de um milionário. “A Carol Burnett fazia isso maravilhosamente bem”, elogia Ingrid. Antes de continuar, é aconselhável contextualizar a história.

O musical é baseado na HQ Little Orphan Annie (Annie, a Pequena Órfã), de Harold Gray (1894-1968), considerado o primeiro cartunista americano a usar os quadrinhos para expressar uma filosofia política – publicada em jornais nos anos 1930, a tira logo evoluiu do melodrama para meditações filosóficas. E a versão musicada segue pelo mesmo caminho: com música de Charles Strouse e letras de Martin Charnin, Annie estreou na Broadway em 1977 trazendo leves referências à turbulenta presidência de Richard Nixon que, em 1974, foi obrigado a renunciar pelo escândalo Watergate.

A peça acompanha Annie, menina de 11 anos que vive em um orfanato comandado pela tresloucada senhora Hannigan (Ingrid). Depois de tentar fugir para encontrar seus pais, que ela acredita estarem vivos, e adotar o cachorro Sandy, ela é trazida de volta e acaba escolhida para passar o Natal na mansão do milionário Oliver Warbucks (Falabella, que raspou a cabeça para compor melhor o personagem). Lá, ela dobra o coração de aço do rico capitalista.

A história rendeu duas versões para o cinema – a primeira (e mais conhecida) foi dirigida por John Huston, em 1982, e interpretada por Albert Finney como o milionário e a grande comediante Carol Burnett, no papel de Hannigan. “Seu estilo de humor é incomparável”, comenta Ingrid, que buscou imprimir sua marca. Como criar uma voz de bêbada que, embora pastosa, é perfeitamente compreensível, especialmente nas cenas com canções.

Annie, aliás, conta com 25 números musicais e traz a suntuosidade que se tornou marca da produtora Atelier de Cultura, responsável pelos musicais O Homem de La Mancha e A Noviça Rebelde. Assim, o cenário tem a assinatura de Matt Kinley e o desenho de luz do também britânico Mike Robertson. Ao todo, o espetáculo (cujo orçamento previsto é de R$ 14,5 milhões) tem o envolvimento direto de 210 profissionais.

Durante o processo de seleção, o que se destacou foi a escolha das crianças. É que, para selecionar as protagonistas e as demais meninas do elenco infantil, a produtora realizou audições em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Brasília e Curitiba que mobilizaram mais de 3.500 crianças. Em preparação para a audição final, mais de 90 selecionadas de todo o Brasil receberam intenso treinamento em São Paulo, por 3 dias. Na etapa final de seleção, Falabella (que também assina a direção) escolheu as 21 crianças do elenco. “Esta geração de meninas já nasceu assistindo e estudando teatro musical no Brasil. Foi inspirador ver tanto talento, disciplina e técnica em milhares de crianças”, comentou ele, que elegeu como protagonistas de Annie as meninas Luiza Gattai Anderáos Delfim, Maria Clara Fernandes de Rosis e Sienna Belle Pontes Vicente.

Além de interpretarem canções que já se tornaram célebres, como Tomorrow, as garotas têm de contracenar com Scott e Lisa, os dois cães da raça podengo português que vão se revezar no papel do cachorro Sandy. Para elas, estrear na carreira musical com Annie é a realização de um sonho, assim como tem sido para Ingrid Guimarães – quando tinha a mesma idade das meninas, 10 anos, ela se apaixonou pela versão cinematográfica. Paixão mesmo, pois assistiu ao filme 128 vezes. Assim, convidada para o musical, ela se emocionou ao cantar pela primeira vez com orquestra. “É algo sublime.”

ANNIE, O MUSICAL

Teatro Santander. Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041. 5ª e 6ª, 21h. Sáb., 16h30 e 21h. Dom., 15h e 19h. R$ 75/R$ 310.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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