Juan Castro, suicídio após vida conturbada. |
O País à beira de um ataque de nervos (crise política, ameaça de moratória, greves, manifestações por melhores salários) encontrou tempo para chorar um ídolo popular. Tal como no Brasil, a Argentina também tem seus ídolos criados pela mídia, e Juan Castro, que morreu na madrugada de sexta, era – para efeito de comparação -, o Pedro Bial da Argentina. E seu drama tornou-se alvo fácil da mídia, que não perdeu tempo em destroçar a vida de um homem que tentara o suicídio dias antes – tudo para ganhar audiência.
Castro, jornalista, de 33 anos, era uma estrela em ascensão na TV argentina. Ele começou como repórter na Telefé (a principal emissora privada do país), mas foi apenas como apresentador de reality shows que ele se projetou. Nos últimos anos, tornou-se o âncora do programa “Kaos en la Ciudad” (Caos na Cidade), que era uma espécie de “Cidade Alerta” de Buenos Aires.
Com o sucesso, ele ganhara prestígio, dinheiro e poder. E quem adquire isso rapidamente acaba ou sofrendo da mais terrível solidão ou se entregando aos vícios. Juan Castro acabou caindo nos dois caminhos – e entrou em um rumo que não tinha volta. Na segunda, ele deixou o trabalho e, sem aparentar problemas, foi para casa. No início da tarde, ele subiu ao sagundo andar, foi para a sacada e se jogou de uma altura de seis metros.
A partir deste momento, sai o drama e entra o espetáculo. Ao saber da notícia, as emissoras de TV e de rádio, os jornais e os sítios de internet começaram a devassar a vida de Castro e transformar o hospital em que ele estava internado em uma “orgia midiática”, como definiu o jornal “Clarín”. O interesse era simples: a tragédia de uma celebridade dá audiência, e o jornalista era o mártir do momento.
As televisões foram as que mais ‘lucraram’ com a história. As emissoras jornalísticas, com a TF e a CVN, mandaram equipes e mais equipes para o hospital Fernández, e tiveram um aumento de audiência superior a 30% nos últimos dias. Quem não podia apostar na imagem lutava com o texto: vários programas de fofocas contaram histórias escabrosas de Juan Castro, explorando sua relação com as drogas e imputando a um suposto homossexualismo a tentativa de suicídio.
Lá, como aqui, pouco se preocupou com a integridade da família, dos amigos e do próprio envolvido na história. No afã de tentar descobrir a última novidade sobre o astro que lutava pela vida, a mídia argentina ‘matou’ Juan Castro várias vezes até a madrugada de sexta, quando o jornalista teve uma parada cardíaca e faleceu. Pena que, nesse mundo da informação, dificilmente os mortos descansam em paz.