No cargo há um mês, o novo secretário de Cultura do Estado do Rio, André Lazaroni, afirma que não quer mais ouvir lamentos sobre a crise financeira que esvaziou os cofres públicos, atrasou salários do funcionalismo e pôs em xeque a sobrevivência de equipamentos culturais. “A gente tem que tocar o dia a dia, sem ‘mimimi’. Se a cultura, que mobiliza e encanta, não acha soluções para a crise, não é a Fazenda que vai conseguir”, diz o secretário, que é deputado estadual pelo PMDB, partido do governador Luiz Fernando Pezão, e assumiu quando era líder do partido na Assembleia Legislativa do Rio, na qual lutava pelas pautas do governo.

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Uma das saídas que encontrou para contornar os parcos recursos para a área foi tornar-se, ele próprio, advogado especializado em direito ambiental e sem bagagem na área da cultura, presidente da Fundação Teatro Municipal. Dessa forma, economizou-se o salário do presidente (R$ 10.100 líquidos, segundo consta no site para consulta do governo), uma vez que ele receberá apenas os vencimentos como secretário.

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Palco mais nobre do Rio, ícone nacional quando se trata de música clássica, ópera e balé, o teatro vive dias turbulentos. Os salários de fevereiro dos servidores – bailarinos, músicos, cantores e técnicos – ainda não foram pagos, tampouco o 13º, de dezembro.

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Desde a nomeação de Lazaroni para a secretaria, a casa perdeu seu presidente, o compositor e regente João Guilherme Ripper, que vinha fazendo um trabalho elogiado, ganhou outro, o ator Milton Gonçalves, e se viu sem nenhum, quando este desistiu do cargo em favor de sua permanência como membro de um conselho consultivo da Presidência da República. Com a reviravolta, assumiu como diretor artístico o premiado encenador de óperas André Heller-Lopes, e, como vice-presidente, Ciro Pereira da Silva, até então a cargo da central técnica de produções.

O desafio da Secretaria de Cultura aumenta por causa da crise fiscal. Uma das pendências é a inauguração do novo prédio do Museu da Imagem e do Som, na Praia de Copacabana, cujas obras pararam há mais de um ano porque o dinheiro acabou. Outra é a manutenção das Bibliotecas Parque, projeto bem-sucedido e que foi abandonado também por falta de recursos – está sendo costurado um novo acordo com a prefeitura do Rio, para que ela volte a bancá-las.

Heller-Lopes, que é professor da Escola de Música UFRJ, traz experiência de passagens por casas de Londres, Nova York e São Francisco e trabalha pela democratização do acesso à ópera. Na prefeitura do Rio, conduziu um projeto nesse sentido, que apresentou o gênero a mais de 30 mil crianças da rede pública do ensino.

“Eram crianças que nunca tinham ido ao cinema nem ao teatro. Precisamos trazer as pessoas ao Municipal, mostrar que a ópera não custa tão caro, que não precisa de roupa especial, que tem metrô na porta. A sensibilidade não tem nada a ver com dinheiro”, defende o diretor, que estreia dia 2 de abril a ópera Jenufa, com concepção sua e agendada para novembro passado – foi adiada por causa de uma greve dos funcionários, por atraso salarial.

Agora na direção, ele tem a intenção de levar para o palco do Municipal mais solistas brasileiros, de fazer mais óperas voltadas ao público infantil, de firmar parcerias para coproduções com teatros brasileiros e latino-americanos, a fim de dividir custos e diversificar as produções, e de inserir outros títulos na programação já anunciada. Uma delas é a pouco encenada Yerma, de Villa-Lobos, cujos 130 anos de nascimento serão celebrados. “Eu vim para ajudar. O teatro é muito maior do que todos nós”, define.