Recém-saído de Cambridge no início dos anos 1970, Sir Richard Armstrong trabalhou em Londres, na Royal Opera House Covent Garden. “Poder dizer que meu primeiro emprego foi acompanhando ao piano os maiores cantores da época, com maestros como Georg Solti e Otto Klemperer, é algo, não?”, ele brinca. “Entre as minhas atribuições estava preparar, a cada início de temporada, o elenco da tetralogia O Anel do Nibelungo, de Wagner.” Não por acaso a obra do compositor se tornaria um dos eixos principais de sua carreira – e é com ela que ele volta esta semana a São Paulo, para três concertos com a Osesp.
Nesta quarta, 30, sexta, 1º, e domingo, 3, Armstrong rege o segundo ato da ópera Tristão e Isolda, de 1856. Os dois bebem sem saber uma poção de amor, que os aproxima de maneira irremediável. Mas é uma paixão proibida, uma vez que Isolda está prometida ao Rei Marke. A obra é um marco: ecoa ideias de Schopenhauer e, por meio dele, o momento vivido então na Europa; ao mesmo tempo, marca uma redefinição na relação entre texto, drama e música, mudando não apenas o caminho que seria trilhado por Wagner, mas sugerindo, com décadas de antecedência, a música moderna.
“É uma obra inovadora em diversos sentidos e carrega enormes dificuldades de execução”, diz Armstrong. Por isso, a orquestra teve um período maior de ensaios. “Há uma riqueza enorme de detalhes na partitura. Ao mesmo tempo, porém, esses momentos específicos precisam ser compreendidos dentro de um arco mais amplo.” Além dos concertos, a orquestra promove também palestras antes dos concertos com o professor Jorge de Almeida; e, no sábado, a mezzo-soprano Katarina Karnéus apresenta com a pianista Olga Kopylova as Wesendonck-lieder, ciclo de canções em que Wagner testou elementos musicais que usaria na ópera.
O destaque do segundo ato da ópera é o grande dueto de amor entre Tristão (vivido por Lars Cleveman) e Isolda (a soprano Rachel Nicholls). É um dos duetos de amor mais impactantes de toda a história do gênero. “E ainda assim, ele nos fala é da impossibilidade da concretização desse amor”, diz Armstrong. “Os dois discutem ao longo do texto essa impossibilidade, enquanto a música também sugere uma situação que não se resolve. Esse casamento entre drama e linguagem musical é fascinante.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.