A paisagem medieval de um final de tarde de sábado no centro de Bonn é interrompida pelo som de chorinho em torno do qual uma pequena multidão começa a se formar. Pandeiro, violão, cavaquinho… Um grupo de rapazes entoa “Brasileirinho” e as meninas logo esboçam alguns passos. Sim, são músicos brasileiros – e hoje à noite voltam a se apresentar na cidade. Só que, desta vez, o palco será outro: o Beethovenhalle, onde a Orquestra Sinfônica de Heliópolis faz sua estreia internacional, dentro da programação do Festival Beethoven, que homenageia anualmente o compositor, filho da terra.
A brincadeira na praça dá a pista do clima da viagem. O momento de descontração não esconde, porém, a responsabilidade. A orquestra chega à Alemanha a convite da Deutsche Welle, que há dez anos realiza o Orchestra Campus, projeto que reúne grupos sinfônicos jovens de países fora da Europa e América do Norte. Além dos dois concertos em Bonn, os músicos vão se apresentar em Berlim, Dresden, Munique, Amsterdã e Londres (para o ano que vem, já há convites para Bélgica e Luxemburgo).
O programa inclui a Sinfonia nº 8, de Beethoven, o Concerto para Violino, de Tchaikovsky (com solos de Shlomo Mintz), as Bachianas Brasileiras nº 4, de Villa-Lobos e Cidade do Sol, obra encomendada ao compositor André Mehmari para a turnê.
O grupo de 75 músicos nascidos e criados numa das maiores comunidades carentes do mundo, a favela de Heliópolis, chegou a Bonn na tarde de quinta. No ginásio de uma escola primária, foram apresentados aos seus “familiares” pela próxima semana – estão todos hospedados em residências da cidade. Gestos, um pouco de inglês, espanhol, portunhol, expressões faciais – tudo vale nas primeiras tentativas de comunicação. Na manhã seguinte, no estúdio da Beethovenhalle, a orquestra faz o primeiro ensaio.
No sábado, a sinfônica interrompeu a grade de ensaios para gravar as Bachianas e Cidade do Sol, que estarão no disco que vai registrar os concertos em Bonn. É a primeira gravação realizada pelo grupo. As informações são do Jornal da Tarde.