Simões, um raro talento

Completa amanhã, 7 de agosto, dois anos desde que conheci João Manuel Simões, membro atuante da Academia Paranaense de Letras e confrade do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, um dos mais talentosos escritores do Estado do Paraná. Este fato ocorreu porque outro amigo, também escritor, Francisco Filipak convidou a mim e esposa para participar da festa dos seus 80 anos (amanhã 82, parabéns!), em sua residência, no centro de Curitiba.

Naquela festa, conversei demoradamente com Simões. Entre os assuntos, o Iluminismo foi o de maior ênfase. Foi um diálogo consciencioso e partilhado. De rara inteligência, Simões jamais impôs seus conceitos como verdades absolutas, mas sempre ofereceu margem para negociação.

Era noite fria, Simões colocou o boné, chamou a esposa e disse que iria embora. Porém antes de deixar a residência do Filipak, Simões pediu meu endereço para o envio de artigos e livros. De lá para cá, tenho recebido regularmente seus trabalhos, o último foi o livro intitulado A Álgebra do Canto. Destaco o poema Ser poeta (pág. 84) para apreciação do leitor:

O que é ser poeta? É construir

com tijolos de verbo e assombro

e a argamassa do engenho, a cripta,

a catedral. É escrever com sangue

a legenda, a autobiografia, o epitáfio.

É plantar em cada verso frágil

uma semente de ressurreição. É respirar

palavras como quem respira

o oxigênio cuja ausência mata. É ir

dentro da noite carregando um facho

para com ele iluminar as trevas.

É ser, quem sabe, um minúsculo deus

infinitesimal criando na brancura

da página deserta, a beleza possível

amorosamente transformada em poema.

Sem dúvida, ser poeta ?é respirar palavras como quem respira o oxigênio cuja ausência mata?. Em uma de suas frases históricas, Cassiano Ricardo (1895-1974) diz: ?Toda arte fala; mas a poesia é a única que fala a linguagem das palavras?. Observo que o domínio das palavras é privilégio de poucos. Simões controla as palavras como o maestro tem o controle da orquestra. E isso ele faz sem dificuldade e com humildade. Parabéns pela genialidade, dom de Deus.

O amor

Sempre desejei escrever sobre o amor, chegou o momento. Esta inspiração para escrever, talvez, provém dos poemas do amigo Simões. Seja como for, para escrever sobre o amor é preciso amar. Eu amo. Muito.

Mas o que é o amor? Não se define, vive-se.

Escuto muitas pessoas dizerem que todo aquele que ama tem ciúme. Não concordo. O ciúme gera tensão, inadmissível para quem ama, pois o amor pede serenidade. O importante é viver a mágica do amor, sem ressentimento.

Esse viver exige doação diária. Sem doação, o amor não é vivido. A doação se dá pelo diálogo, pela partilha, pela aceitação, pela divisão das tarefas, pelo romantismo… O individualismo não pode existir na prática do amor.

Escuto ainda muitas pessoas falarem que o sexo é o fermento que faz o amor acontecer. Não concordo. O sexo é o complemento de duas pessoas que se amam, mas não o fermento. O amor vai além do físico. De que adianta o prazer sexual se a doação não ocorre? O sexo pelo sexo é prostituição.

Quem ama é simples, não obedece aos conceitos pré-definidos sobre como amar, mas está aberto para conhecer a pessoa amada, da mesma forma que se deixa conhecer pela pessoa amada. O amor é dinâmico e inovador, por isto ele é vivido a cada instante, intensamente, no cotidiano da vida de um casal.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva é palestrante, historiador, pesquisador, professor. queirozhistoria@terra.com.br

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