Imagine um bolão em que as pessoas apostam em personalidades. Pode ser algo bastante comum, não? Mas a proposta deste bolão da internet é um pouco diferente…
Para começar: os apostadores não têm expectativa com dinheiro — ganham apenas prêmios simbólicos e ‘reconhecimento’. Eles acumulam pontos e são classificados de acordo com um ranking. A gratificação vai para o vencedor, enquanto os 10 primeiros ganham menções honrosas. O importante é o propósito da aposta — inusitado, para dizer o mínimo: para serem bem-sucedidos, os participantes prevêem que os artistas listados passem desta para uma melhor. Sim, a ideia é apostar em nomes de pessoas que irão morrer no ano da competição.
“Minha mãe e meu pai acham meio macabro. Meus amigos, que têm um humor de gosto duvidoso, é que gostam”, conta Paulo Henrique Martins, de 31 anos, o organizador do Bolão Pé Na Cova, um de site de apostas que funciona movido pela morte de personalidades públicas.
Ele afirma que já recebeu algumas críticas fortes por e-mail, mas se impressiona como algumas pessoas se importam com o bolão. “Lembro estar viajando quando a Hebe [Camargo] morreu e, quando voltei ao hotel, havia e-mails pedindo para que eu atualizasse a página”, contou.
A ‘brincadeira’ existe na internet desde 2012, mas, na época, era restrita ao círculo social de Paulo. Apenas no ano seguinte o jogo se abriu para o mundo: a partir daí, de um total de cerca de 30 participantes — na maioria, amigos dele —, o Pé Na Cova passou a receber apostas de quase 200 pessoas por ano. Para ter uma ideia, a lista para 2018 possui 190 apostadores — a de 2017 teve 195.
Paulo, então, teve de sofisticar a coordenação do bolão. “Antes, eu organizava as coisas de uma maneira bem manual. Depois, quando passei a receber mais gente no bolão, resolvi fazer um sisteminha”, diz ele, que é programador e vive há dois anos e meio em Berlim, na Alemanha. Ele revela que o nome e o formato do bolão de apostas encontra suas origens no CocadaBoa, um site de humor dos primórdios da internet no Brasil, que realizava a brincadeira desde 2001.
“Tinha interesse em trazer para a internet um jogo da vida real para que todo mundo pudesse brincar, e, como segundo componente, a possibilidade de fazer o site ficar conhecido”, conta Wagner Martins, criador do site, também conhecido pelo codinome Mr. Manson.
Do Cocadaboa, o site Pé Na Cova extraiu o seu formato de bolão: os apostadores enviam uma lista — e podem fazê-lo dentro do período de um ano — com 15 nomes de personalidades que eles apostam que vão morrer (na brincadeira do Cocadaboa, podiam ser inscritos até 10 nomes).
O período de envio foi aberto no último dia 20. “A gente encerra no dia 2 de novembro [os recebimentos das listas] por ser uma data oportuna”, conta Paulo em tom de brincadeira, se referindo ao Dia de Finados. As listas demoram um mês a serem validadas, para impedir que sejam editadas em meio algum acontecimento que influencie a percepção dos apostadores sobre o tempo de vida de personalidades.
Para definir o número de pontos ganhos por um palpite correto, há uma regra importante, também tirada do Cocada. “A pontuação que alguém ganha é igual a 100 menos a idade da pessoa que morre”, explica ele. Há um mínimo de 5 pontos no acerto, para o caso de uma personalidade que faleceu com mais de 100 anos não deixe a pontuação do jogador negativa. Em síntese: quem aposta nos mais novinhos, ganha mais.
“A mais nova que acertaram este ano foi a Márcia Cabrita”, diz Paulo sobre a atriz, que morreu em 10 de novembro. Na lista divulgada dos mais apostados para morrer em 2018, Silvio Santos lidera.
O ex-presidente da República José Sarney vem em seguida, seguido por Pelé, Zagallo e Lula. Roberto Carlos — o cantor — é 8º, enquanto a Rainha Elizabeth, a 10ª. Em 20º, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo Paulo, ano passado, o presidente Michel Temer ficou na 22ª posição dos mais cotados do bolão mórbido.