Silencia a viola caipira de Renato Andrade

Ontem a noite familiares e amigos deram adeus ao violeiro Renato Andrade, de 73 anos. Virtuoso em seu instrumento, Andrade faria uma turnê acompanhado pelos violonistas Serra Grande e João José, por 10 capitais. Para a infelicidade dos amigos e dos apreciadores da viola caipira, o câncer de pulmão descoberto há 4 meses levou um grande ícone musical e talvez o maior representante da música de raiz. Renato deixou esposa e três filhos. O enterro foi realizado em Abaeté (MG).

Respeitado compositor de viola e ovacionado quando botava o instrumento para falar, Andrade iniciou seus estudos musicais com o violino. Desse tempo, o gosto pela música erudita resultou em técnicas avançadas para a viola, desenvolvida pelo músico. Fã de Bach, soube que seu talento não estava na música erudita e sim nas modas de viola. Ele acreditava que somente alguém com alma caipira poderia tirar da viola tudo o que ela tem a oferecer.

De talento apurado, Andrade também se revelou como um grande contador de histórias e casos vividos por ele e por outros. ?Daí, sou tangedor de viola, semi-erudito, e folclorista também, que sou contador de casos do meu povo, de seus pactos com Deus e com o Demônio. Mas tudo o que canto ou conto está, diretamente, ligado à minha viola?, disse ao Jornal O Globo, em 1978, no início da carreira. Entre uma história e outra tocava obras clássicas que transitavam pelo popular até o erudito. Renato foi pioneiro ao levar para as salas de concerto obras dos populares Edino Krieger, Guerra-Peixe e Francisco Mignone.

De início tardio, daí sua maturidade e inteligência musical que o fez compreender a viola como instrumento simples, Renato começou a carreira de violeiro somente aos 36 anos, no final da década de 70. Dos quase trinta anos de viola gravou sete discos e realizou inúmeras turnês, inclusive fora do País. Para os Estados Unidos foi com a esperança de que a música regional ganhasse popularidade nos grande centros. Em outra ocasião afirmou que vinha aos grandes centros porque neles sempre havia um público enrustido, apreciador da música de raiz. Seus shows internacionais atingiram as Américas, em boa parte a América Central, com passagem em universidades no México, República Dominicana, El Salvador e Costa Rica.

?Minhas composições, até agora, foram feitas para mostrar do que a viola é capaz. Componho pensando na viola e bolo a coisa diretamente nela?, revelou em reportagem do jornal Folha de São Paulo, em 1979. Assim foi Renato Andrade. Violeiro, folclorista, contador de histórias. Sua viola rasgada chamou a atenção de ouvidos afinados e sobre sua qualidade, afirmou que com os anos surgiria alguém para avaliá-la. Até o momento outro violeiro como Andrade ainda não apareceu. O prefeito de Abaeté, Cláudio de Sousa Valadares, decretou luto oficial de três dias. 

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