Sidney Magal atravessa o lobby do Hotel Maksoud para conversar com o repórter numa área mais reservada. Passa por uma mesa em que homens de negócios estão em conferência. Para tudo – “Queria ver você dançar um tango”, diz um deles. Magal faz um comentário humorado, o grupo ri. É sempre assim onde ele chega. O público o adora. Magal senta-se e confessa. “A Dança dos Famosos me rebentou. Duas hérnias de disco. Estou aqui conversando, rindo, mas dói pra burro.” Magal conta os dias para 21. Por que 21? “Vou para casa.” E onde é ‘casa’? “Nasci no Rio, mas moro em Salvador há muitos anos. Minha mulher é baiana.”

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Mas Magal não está indo exatamente para descansar. Vai passar as festas com a família, amigos. “Já contratei uma escuna só para a gente. Vai ser lindo.” Por enquanto, ainda tem trabalho. A entrevista está sendo feita na sexta, 16, à tarde. Magal tinha dois shows no sábado, 17, e um terceiro na terça, 20. “Me apresento muito em festas de firmas, de família”, conta. Essa é sua rotina. O que tem de diferente na semana é que ele está lançando novo filme – Magal e os Formigas. “É um filme bobinho, mas muito simpático”, avalia. Uma variação sobre a velha fábula da cigarra e da formiga. Um cara trabalhador, careta, que vive buscando a fórmula para acertar na Mega Sena. Um cara que não diz mais à mulher que a ama nem a tira para dançar. De repente, ele está ouvindo vozes – e o Magal do cartaz na parede passa a interferir em sua vida.

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Claro que, sendo Magal um artista popular, o filme ‘bobinho’ vai por essa vertente. Mas, atenção, o diretor é Newton Cannito, doutor em cinema e TV pela USP. Cannito não é pouca coisa, e olhem o que ele diz para justificar sua escolha do ator. “Por que Magal? Porque a alegria é a prova dos nove, e Magal passou no teste do Oswald com louvor. É mais que um cantor. E mais que um ator. Ele virou um arquétipo nacional, uma personalidade que perpassou 50 anos de cultura brasileira, transitando entre públicos – é cult entre jovens e tem muitos fãs na terceira idade – e entre gostos musicais, entre classes sociais. Eu precisava de um ser humano que personificasse uma Cigarra. Magal é a cigarra ideal.”

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Quando o repórter repassa a informação, Magal faz seu gesto de meigo. “Muito carinhoso da parte dele.” O momento é especial para o artista. Apesar da fama de cigarra – e do mito do amante latino -, Magal está mais para formiga. Trabalha muito. Cuida-se pouco. “Bicho, nunca fui de me cuidar muito. Tomo água gelada antes e durante os shows, vivo no ar condicionado. E não faço exercício físico, exceto no palco. A menina que me ensaiava no Dança dos Famosos foi ver o show e puxou minha orelha. Disse que lá eu vivia de nenhenhém. Quando estou no palco, esqueço tudo. Faço loucuras.” Há tempos assumiu suas cãs, a barriga. “Não sou louco de querer botar botox. A cara já é um c…” Ops! Magal é da estirpe de Dercy Gonçalves e Costinha. Ninguém reclama de seus palavrões. E ele ri.

Não que seja bon vivant, do tipo que gosta de levar vantagem – longe disso. No ano que vem, completam-se 40 anos do primeiro disco de sucesso. Dez anos antes ele já estava na estrada. Portanto… “Não sei precisar a data, mas em 2017 serão 50 anos de carreira. Vou fazer um grande show para comemorar, possivelmente no Ibirapuera. Vai virar um DVD comemorativo. E hoje (sexta) ainda devo falar com uma garota que vai escrever um livro sobre minha vida. Tenho muitas histórias, então vou contar algumas delas.” A mãe era parente de Vinicius de Morais, um tio compunha para Carmem Miranda. A família veio do lado nobre da MPB. Magal foi para o popular. Se Carlos Drummond foi ser gauche na vida, ele foi ser brega.

Não liga para rótulos. Desafiou preconceitos ao rebolar. Diz que, no palco, artista não tem sexo. Em junho, anunciou que ia se aposentar e foi uma comoção.

Tem 63 anos. “Dos 70, não passo, quero me dedicar mais à família.” Segue apresentando seus hits – Se Te Pego com Outro Te Mato, Me Chama Que Eu Vou e o carro-chefe, Sandra Rosa Madalena. Na família, tem mesmo sangue cigano, mas lá atrás. O Magal cigano, latino foi um jogada de marketing que deu super certo. Até hoje se espanta como, nas redes sociais, a toda hora recebe imagens de crianças com a flor na boca cantando Sandra Rosa. Separa bem o homem, Sidney Magalhães, do artista, Magal. Leva muito a sério esse último, mas leva mais ainda o cidadão.

Volta e meia posta no Facebook sua inconformidade com o Brasil atual. “Minha mulher vive me policiando. Todo mundo fala mal dos políticos, eu também, mas não creio que os políticos sejam tão divorciados do povo brasileiro. É muita gente querendo tirar vantagem.” Por falar na mulher… “Nossa história de amor é muito bonita. Vai virar filme.” Quem dirige é Paulo Machline, de Filho Eterno, com quem Magal discute os detalhes da produção para o fim de 2017.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.