Shows refazem discos clássicos lançados em 74

O ano de 1974 teve muitos primeiros. Aos 66 anos de idade, Cartola descia do Morro da Mangueira para lançar seu primeiro álbum, que o apresentava ao mundo tardiamente, sobretudo com Alvorada e O Sol Nascerá. Arnaldo Baptista fazia seu primeiro disco solo depois de dissolução dos Mutantes e, ainda, ardendo de paixão por Rita Lee. Jorge Ben, depois de 11 discos lançados, dava seus primeiros passos rumo aos poderes da alquimia em sua discografia, com A Tábua de Esmeralda. E Elis Regina e Tom Jobim… Bem, estabelecidos como a maior e o maior no canto e na composição, faziam o álbum que estaria em primeiro lugar em muitas das listas que falariam dos mais importantes discos da música brasileira.

O projeto 74 Rotações, em sua terceira edição, revisita, a partir desta quinta-feira, 18, discos lançados em 1974 entregando-os para quatro artistas de linguagens contemporâneas. O rapper Emicida refaz as músicas que Cartola lançou em seu álbum de estreia. A cantora Luciana Alves se une ao trio do violonista Marco Pereira para reler Elis & Tom. A banda de rock O Terno vai tocar Loki?, de Arnaldo Baptista. E o grupo Los Sebosos Postizos fica com A Tábua de Esmeralda, de Jorge Ben.

A curadoria dos jornalistas e DJs Ramiro Zwetsch e Filipe Luna, ambos do site Radiola Urbana, pensaram fora da caixa, ousaram nos convites e podem obter resultados surpreendentes, descolados das homenagens clássicas e óbvias. “Pensamos muito sobre cada convidado”, diz Zwetsch.

Emicida foi às aulas de canto para poder encarar a sequência demolidora de sambas gravados por Cartola. Sua presença cria uma situação simbólica antes mesmo que ele suba ao palco, ao lado de um DJ, dois violões (um de sete cordas), cavaquinho, baixo e percussão. O rap e o samba, depois de anos fazendo relatos aparentemente distintos de uma mesma realidade periférica, aparecem cada vez mais entrelaçados. E Emicida, reverenciando um de seus dois mestres (o outro é Adoniran Barbosa), faz um grande favor a si, ao rap e ao samba. Agora é com ele.

Luciana Alves tem um abacaxi nas mãos. “Os outros discos foram sendo cultuados com o tempo, não foram considerados grandes clássicos na época de seus lançamentos. Mas Elis & Tom, sim. Pensamos até em deixá-lo de lado”, diz Zwetsch. E das cantoras que havia em cena, muitas crias da amálgama que deu forma à música brasileira moderna, Luciana Alves é uma exceção. “Sempre pensei na Lu para encarar essa”, diz o curador.

A cantora se prepara investindo em uma formação que, de cara, descola do álbum original. O trio de Marco Pereira tem, além de seu violão, um baixo acústico e um acordeom. A voz de Luciana joga em outros campos, mais delicada, suave, sem arroubos emocionais explícitos da viagem quase sem volta que Elis criou (e na qual todas as cantoras que tentam imitá-la pretendem embarcar). “Adorei o convite, mas entendi o tamanho da responsabilidade. Deu um medo, mas vou fazer o que sei fazer. As pessoas não podem ir esperando ver baixar ali uma Elis Regina”, diz Luciana.

Em campo relativamente menos minado, a banda O Terno vai revirar o álbum Loki?, de Arnaldo Baptista, certamente com um vigor que aparece com sutileza na gravação original. E o grupo Los Sebosos Postizos, de integrantes da Nação Zumbi, refazem o álbum de Jorge Ben, A Tábua de Esmeralda.

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