Um homem de cabelos quase black power no centro do palco. Um trio de baixista, guitarrista e baterista norte-americanos ao seu lado e um microfone ao meio. Todos usando ternos e aparelhos amplificadores da antiga marca Orange, como se estivessem em algum palco dos anos 60. Muito pouca gente no Brasil sabia da existência do grupo Vintage Trouble até ontem, 13, quando o grupo liderado pelo explosivo vocalista e performer Ty Taylor surgiu caminhando pelo Palco Sunset do Rock in Rio.
Taylor é o que se pode chamar de líder, insanamente carismático. É como se tivesse nascido de alguma costela de James Brown, de alguma corda vocal de Sam Cook ou Marvin Gaye. Apesar de ter sido colocado em um horário e em um palco que a princípio pode denotar pouco privilégio, às 16h no Sunset, Taylor conseguiu reverter todos os contras a seu favor e fez muita gente da plateia sair comentando coisas do tipo: “Meu Deus, quem é esse cara?”
A Vintage Trouble recoloca a soul music no berço, tirando todo o aparato tecnológico que ela ganhou dos anos 90 para cá. Investe em uma sonoridade crua, blueseira sobretudo na guitarra de Nalle Colt, e dançante. É, ao mesmo tempo, soul, funk, R&B e blues. Taylor rodopia pelo palco e só não se joga no chão com as pernas abertas porque aí a referência a James Brown seria descarada demais. Seu disco de 2011, The Bomb Shelter, foi a base de um show pensado para erguer ondas de comoção. Sua performance ajuda. Depois de pular no palco, resolver fazer o mesmo na plateia, andando e dançando com seu público como se estivesse em casa. Um ato que seria populismo, não fosse tão engrandecedor em seu contexto. A plateia foi atrás, e Taylor só sossegou quando fez com que todas as mãos estivessem para cima.
A convidada da Vintage foi a cantora Jesuton, algo que cheirava a armação do Rock in Rio com a Globo, já que esta cantora inglesa foi lançada pela Som Livre (braço fonográfico da emissora), com direito a matérias generosas na casa. Mas Jesuton valeu cada nota. Cantou com emoção e chorou sobre o palco. Ela foi descoberta cantando nas ruas do Rio de Janeiro, depois de vir morar no Brasil com o marido. Quando viu o público que cantava ontem com ela, não se conteve. “Gente, eu sonhei muito com isso que estou vendo agora.” Ela, então, enxugou as lágrimas e fez uma belíssima balada, Nodoby Told Me, ao lado de Taylor. Um pouco mais adiante, anunciou que faria uma surpresa. E fez, dentro da proposta de encontros do Sunset. Fez com que os gringos do Vintage Trouble fizessem com ela uma versão soul de Mas Que Nada, de Jorge Ben.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.