As referências ao tempo pontuam a turnê Guns N´Roses Not in This Lifetime Latin America, que passou por Curitiba nesta quinta-feira (17). A começar pelo nome dado a série de shows que marcam o reencontro de parte da primeira formação da banda, que surgiu em 1985 em Los Angeles, Estados Unidos. A tirada, que em tradução livre significa algo como “não nesta vida”, faz alusão a uma declaração dada pelo vocalista Axl Rose há algum tempo, quando perguntado quanto o time original se reuniria novamente. As palavras enfáticas eram reflexo das rusgas que se criaram especialmente entre ele e o guitarrista Slash, que há 23 anos decidiram dar cabo a uma das bandas de rock mais bem-sucedidas da história.
Mas nada como o tempo, sempre o tempo, para apaziguar os ânimos. Não à toa, relógios em profusão foram utilizados na cenografia do show. No telão ao fundo do palco, eles apareciam para marcar a passagem do tempo. Ou propor uma viagem ao passado. Quem se arriscou a fechar os olhos por alguns momentos, certamente voltou aos anos 90, quando a banda estava no auge. Axl Rose parece ter recobrado a potência vocal ao lado dos antigos companheiros: o guitarrista Slash e o baixista Duff McKagan. A dupla das cordas, em contrapartida, mostrou que não perdeu a forma com o passar dos anos. O que falar dos solos de Slash com sua Les Paul, dedilhando com voracidade o tema do filme O poderoso chefão, de Coppola, ou homenageando o Pink Floyd? De arrepiar!
O tempo, novamente ele, também foi lembrado por Manuel de Souza, que veio de Turvo, em Santa Catarina, com os dois filhos adolescentes e uma sobrinha, que não tinham tido a chance de ver o trio original do Guns em ação “Fazia muito tempo que eles estavam brigados. Achei que nunca mais veria esta formação reunida ou ao menos parte dela”, disse. A filha dele, Manuela, aprendeu a gostar da banda nos churrascos de família, quando o pai colocava o DVD para tocar. “Adorava November Rain e sempre acreditei que veria o grupo junto novamente”, diz, mesmo que ainda tenham faltado o baterista Steven Adler e o guitarrista Izzy Stradlin. O irmão dela, Cícero, também se tornou fã e fez questão de aprender a tocar uma guitarra do mesmo modelo da empunhada por Slash.
Para a hoteleira Tatiana Rudinger, o tempo representou uma longa espera para realizar o sonho de assistir à banda favorita, que conheceu no início dos anos 90, durante um intercâmbio na Austrália. “Nunca tinha conseguido assistir e neste retorno, acabei ficando sem ingresso em São Paulo. Aí um amigo me deu um ingresso para o show de Curitiba e finalmente, depois de tanto tempo, vou vê-los de perto”.
Ao que parece, o Guns não decepcionou a expectativa destes e dos cerca de 20 mil fãs de várias idades que marcaram presença na Pedreira Paulo Leminiski. Em um show com direito à pirotecnia, com um atraso de apenas 25 minutos, a banda tocou, entre outras músicas, sucessos dos primeiros anos da banda, como It´s so easy, Mr. Brownstone, Sweet Child of Mine, Welcome to the jungle e Patience, e outros de quando a banda estava no auge, como You Could Be Mine, Estranged, Civil War, Yesterday, Knocking on Heaven Doors e a regravação de Live and Let Die, sem esquecer, é claro, de November Rain, quando Axl Rose se esmerou ao dedilhar o piano de cauda instalado no palco. O encerramento, que levou o público ao delírio, foi com a clássica Paradise City. Com aproximadamente duas horas de show, o Guns N´Roses se despediu de Curitiba, deixando no ar um desejo: que não demore muito tempo – sempre o tempo – para que um novo reencontro seja marcado.