Morreu na quinta, 5, em Paris, aos 92 anos, o cineasta, escritor e jornalista francês Claude Lanzmann, autor de Shoah, o “filme definitivo” sobre o Holocausto. Quando lançado, em 1985, Shoah deixou o público estupefato por sua potência. Mesmo assim foi criticado, em sua metodologia, por historiadores.

continua após a publicidade

Lanzmann voltou ao tema em outras ocasiões, como em Sobibor, 14 de outubro de 1943, 16 Horas sobre o heroísmo do levante de judeus presos num campo de extermínio. Em Le Rapport Karski entrevista o resistente polonês Jan Karski, mandado aos EUA para pedir ajuda ao indiferente Roosevelt. Em O Último dos Injustos faz o retrato de Benjamin Murmelstein, dirigente de conselho judaico acusado de colaboração.

continua após a publicidade

Ano passado, na Mostra de Cinema de São Paulo, foi exibido o memorialista Napalm, que seria a última obra de Lanzmann. Trata de uma lembrança de mocidade do diretor, quando havia ficado doente durante uma viagem à Coreia e foi atendido num hospital do país. Inevitavelmente, caiu de amores por sua enfermeira.

continua após a publicidade

Persona controversa da intelligentsia francesa, esse talento múltiplo de cineasta, escritor e jornalista foi editor da célebre revista Les Temps Modernes, na época de Sartre. Lançou em 2009 seu livro de memórias A Lebre da Patagônia (Companhia das Letras, 2011), no qual fala sobre seus filmes, viagens, e, claro, amores espalhados pelo mundo. Entre os relacionamentos, aquele que ficou mais famoso, foi o com a escritora e filósofa Simone de Beauvoir, com quem viveu de 1952 a 1958.

Hoje ninguém discute a importância de Shoah, obra incontornável sobre o grande crime do século 20. São nove horas e meia de duração, uma coleta e exposição minuciosa de dados sobre o maior extermínio programado da história da humanidade. Personagem polêmico e pantagruélico em seu gosto pela vida, Claude Lanzmann deixa Shoah como legado definitivo. Mas há muito mais a vasculhar em sua vasta obra, tanto cinematográfica quanto literária. Era um titã imperfeito. Gigante que colecionou admiradores e desafetos, talvez na mesma proporção.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.