‘Serra Pelada’ se transforma em minissérie

Para o espectador que não assistiu ao filme Serra Pelada e até para quem o viu nos cinemas -, a transformação do longa em minissérie de quatro capítulos, a partir desta terça-feira, 21, poderá produzir um choque. Imagine o telespectador médio, aquele que assiste a Amor à Vida e, na sequência, ao BBB. Félix, muito provavelmente, estará advertindo seu carneirinho contra as más intenções de Amarilys, Aline vai tentar se livrar de César e do amante, interpretado pelo mesmo Juliano Cazarré que estrela Serra Pelada – A Saga do Ouro.

Nenhum espectador que se ligue nas histórias dos gays de Walcyr Carrasco estará preparado para as ‘marias’ do garimpo de Heitor Dhalia. São tinhosas. E a remontagem para a televisão puxa logo para o primeiro episódio, no segundo bloco, o impactante episódio de Wagner Moura no boteco. Prepare-se.

Embora seja muito bom, Serra Pelada não correspondeu, nos cinemas, à expectativa. Com custo de R$ 12 milhões, o longa era um projeto grandioso, que Dhalia executou com paixão, mas o público rejeitou. Com 450 mil espectadores, não foi um fiasco e seria uma plateia honrosa para um filme médio. Mas era um filme grande. José Alvarenga garante que agora Dhalia vai à forra. Mesmo que não atinja os picos de 40 pontos de audiência de Amores Roubados, na semana passada, o público de Serra Pelada – A Saga do Ouro – pela emissora, a Globo, pelo horário – será de milhões.

Alvarenga foi parceiro de Dhalia desde a primeira hora, quando ele lhe apresentou o projeto de Serra Pelada. Contribuiu para que a Globo Filmes embarcasse na aventura. Já desde aquela época, havia o compromisso de transformar o longa em minissérie, o que ocorre agora. Alvarenga acompanhou a montagem do longa na versão para cinema, palpitando com Dhalia. Ele agora fez a montagem para televisão, e com Dhalia. A parceria não é só profissional. Virou uma grande amizade, produto de admiração mútua. Os dois gravam uma série – o drama criminal O Caçador, com Cauã Reymond -, que com certeza vai dar o que falar, quando for ao ar, em abril.

“Heitor fez um trabalho muito bacana no Serra. Tinha muito material e um controle grande sobre ele. Sua montagem foi enxuta. O que fizemos agora foi deixar esse material respirar. O filme ganhou mais cenas, coisas que haviam ficado fora da montagem. Mas o grande desafio é que, além de distender as cenas, tínhamos de trabalhar criando ganchos – para o próximo bloco, o próximo capítulo”, explica Alvarenga. E acrescenta. “O foco continua na relação entre os personagem do Juliano (Cazarré) e do Júlio (Andrade), e entre eles e o garimpo. Só para citar um exemplo. Joaquim, o personagem de Andrade, vive advertindo o Juliano que o garimpo piora as pessoas. E o Juliano, depois de matar pela primeira vez, diz que gostou. A frase estava no filme, mas na TV tem uma pausa, a cena é distendida e o efeito é mais forte. Não é a mesma coisa do cinema.”

Outro Exemplo

“O personagem do Wagner (Moura), pela lógica da história, não precisava ser apresentado no primeiro capítulo, mas o puxamos porque, enfim, é o Wagner e o que ele faz é impactante. De cara situa o espectador no universo violento de Serra Pelada.”

Como o filme, a minissérie não é só um estudo de personagens. Por meio do garimpo, conta-se a história do Brasil sob os militares, nos anos 1980. Sempre houve uma preferência pelo Juliano como personagem dos tempos fortes, da ação. “O Joaquim era mais reflexivo, até irritante. Ele cresce. A minissérie desenvolve mais sua história com a mulher que ficou em São Paulo. Não é só a solidão dele. É a dela. Existe espaço para mostrar a mulher do Joaquim como ela não era vista no cinema.”

É tudo uma questão de tempo, e a TV, veículo que trabalha com a urgência, paradoxalmente fornece essa pausa, para que os personagens respirem. “Sophie (Charlotte) havia ficado triste porque cenas de que gostava muito foram editadas. Como o horário permite, Juliano e ela têm cenas de sexo que não apareciam na outra versão. Particularmente gosto muito da imagem dela vestida de noiva, e toda ensanguentada por causa da morte na porta da igreja.” Pela descrição que Alvarenga faz, o repórter lembra-se de Kill Bill, de Quentin Tarantino, com Uma Thurman. “Sem dúvida. Acompanhei todo o processo e posso garantir que Tarantino e o Paul Thomas Anderson de Ouro Negro foram as grandes referências para o Heitor (Dhalia).”

Alvarenga nega que tenha caído de paraquedas para fazer a remontagem de Serra Pelada. “Não coloquei minha alma no filme, como o Heitor fez, mas o projeto foi todo movido a paixão. Era uma equipe tão motivada que todo mundo se achava meio dono do filme. Não eram só os autores. O diretor, os roteiristas. Era o aderecista, o diretor de arte, o cara da água. Serra Pelada também era meu. Estamos, eu estou muito feliz com a sobrevida que poderá ter na TV.” E Alvarenga arremata – “É mais um ponto importante na parceria entre cinema e televisão. Amores Roubados teve fotografia de Walter Carvalho e um roteiro sólido (de George Moura). Não é só o cuidado com o visual, é com a dramaturgia. A TV tem um lado industrial. As coisas são feitas rapidamente. É bom que existam esses produtos mais sofisticados. A minissérie não é uma tentativa de salvar um filme que ficou aquém da expectativa (de público). Serra Pelada já nasceu para virar também minissérie, e é o que fazemos, com o cuidado que o material merece.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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