Tudo começou como um souvenir de infância. Garoto, em Pernambuco, nos anos 1980, Heitor Dhalia ouvia na TV as histórias de Serra Pelada, um lugar mítico – Eldorado? – em que se misturavam homens rudes em busca do ouro e mulheres gostosas como Rita Cadillac. Com o garimpo, enterrou-se a ditadura e hoje, com o distanciamento provocado pelo tempo e pela reflexão, o diretor pode dizer que ali, naquele buraco gigantesco, foram lançados os fundamentos do Brasil moderno. Depois de duas experiências internacionais, À Deriva e Gone, e disposto a retomar suas origens brasileiras, Serra Pelada se impôs como tema, como paisagem, como sonho.
Foram cinco anos de trabalho intenso, insano, duro, mas a miríade está completa. Serra Pelada encerra oficialmente, depois de amanhã, 8, o 15.º Festival do Rio. No dia seguinte ocorre a cerimônia de premiação, com a entrega dos prêmios aos vencedores do troféu Redentor. E uma semana mais tarde, no dia 18, será o lançamento, grande como o próprio filme. Não se pode pensar pequeno a propósito de Serra Pelada, mas Dhalia, que já pensava grande, não tinha a dimensão de como seria difícil viabilizar a história que queria contar.
“Desde o início era uma história de amizade, de Juliano e Joaquim, dois amigos que partem em busca do Eldorado e conhecem o inferno”, explica o diretor. Ele teve uma parceira decisiva no processo – a roteirista (e também diretora, embora não aqui) Vera Egito, que encarou com Dhalia o desafio de concentrar em duas horas todos os excessos de Serra Pelada.
Sexo e poder, ouro, violência. E, ao mesmo, contando a história de Serra Pelada, o filme dá conta do Brasil, do que ocorria no regime militar, de como o País via o garimpo, com os olhos do Jornal Nacional, da Globo. Encontrada a maior pepita do mundo – e a cada anúncio, mais gente partia em busca do ouro. Criou-se um formigueiro humano.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.