Abu chega à agência de publicidade para uma reunião importante. À mesa, publicitários passam a ele o briefing da campanha que estão tocando – a de um novo barbeador com oito lâminas – para a qual querem que Abu faça a trilha. Confusos, eles não sabem ao certo o que almejam musicalmente, mas batem na tecla que tem de ser um jingle de “macho”. Sem saber que caminho seguir, Abu, involuntariamente, vê ideias brotarem em seus sonhos – aqui, retratados em animações.
Extraindo comicidade de situações adversas, ao estilo de Jerry Lewis e tantos outros comediantes clássicos, esse primeiro episódio da série “Sonhos de Abu”, que estreia nesta sexta-feira, 17, às 23h30, no Canal Brasil, é inspirado em fatos reais. Assim como os outros 12 episódios. Há sempre uma história pinçada de experiências próprias ou alheias, contam André Abujamra e Rafael Terpins, idealizadores do projeto. “O Zé Rodrix (o amigo compositor) passou por essa situação”, conta Abujamra, referindo-se ao tal jingle de “macho” feito sob encomenda.
O Abu da série é o personagem de André Abujamra – e que tem muito dele próprio. Nessa história de vida de Abujamra “verdadeiramente falsa” ou “falsamente verdadeira”, o roteiro não é estagnado. Pelo contrário. Os atores e não atores não só tinham plena liberdade como não encontravam outra alternativa a não ser improvisar, sobretudo nos diálogos. “Isso foi dando um tom coloquial, me incomoda muito o roteiro nas novelas e nos filmes. Não soa natural”, observa André Abujamra.
Nesse jogo de improviso, surgiram resultados hilários, como o fagote proposto por Abu para a trilha sonora da propaganda publicitária. “A gente já decidiu que não ia ter pagode”, dispara a personagem Giovanna (da ótima Giovanna Velasco), com sotaque carregado no paulistanês. E, quando ele usa o filme “O Encouraçado Potemkin” como referência na reunião, a mesma personagem recusa a ‘Potranquinha’ nessa trilha.
Segundo o músico, os não atores se sentiram mais confortáveis com essa liberdade do que os atores mais preparados. Como seu pai, o ator e diretor Antônio Abujamra, que faz participação em um dos episódios da série. Quando Antônio soube da improvisação, ele protestou, mas, no final das contas, aderiu à regra do jogo. Na série, ele faz o papel do pai de Abu, que ainda é chamado Ravengar na rua e tem compulsão por roubar talheres de restaurante. Quando Abu pergunta: ‘Por que você pega garfo’, ele responde: “É uma experiência que você não vai chegar nunca a fazer”. Há outras participações especiais, como dos músicos Edgard Scandurra, Arrigo Barnabé e Maurício Pereira (parceiro de Abujamra em Os Mulheres Negras), da cantora Zizi Possi, do cantor Carlos Careqa, do cineasta Fernando Meirelles, entre outros.
Com criação, direção e roteiro de Rafael Terpins e André Abujamra, trilha sonora de Abujamra e Marcio Nigro, animação de Terpins – e incentivo do Fundo Setorial da Ancine -, Sonhos de Abu surgiu num almoço conciliatório, por assim dizer. “Tudo começou com uma briga”, lembra Terpins. Eles estavam envolvidos em um projeto de Leon Cakoff, em 2011. Abujamra assinava a trilha e Terpins, a parte gráfica. No meio da correria, após Leon ser hospitalizado, a produção esqueceu de enviar para Terpins o crédito de um pianista que tocou na trilha e Abujamra ficou bravo. “Tomei as dores da produtora e mandei um e-mail brigando com ele”, conta Terpins.
E, enquanto esperava o amigo no almoço para apaziguar os ânimos, Terpins lembrou do sitcom americano “Curb Your Enthusiasm” e teve um insight, acolhido, com entusiasmo, por Abujamra, e que virou “Sonhos de Abu”. A série deve ganhar uma segunda temporada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
PARTICIPAÇÕES
Fernando Meirelles
O cineasta faz papel de garçom
Zizi Possi
A cantora paulistana interpreta uma florista
Arrigo Barnabé
O músico vive um manobrista
Edgard Scandurra
O guitarrista do Ira! faz as vezes de um personal trainer
Clemente Nascimento
Líder do grupo Inocentes, ele dá vida a um ex-punk que virou cabeleireiro