É da garagem que saem grandes sons. Eles não vão parar em CDs ou DVDs, muitas vezes nem são gravados, mas existiram ao menos uma vez, fruto da inspiração de músicos que só queriam relaxar entre uma e outra gravação.
Três projetos relaxados, feitos sem maiores intenções que não seja a diversão, estão reunidos na nova temporada do Covers, uma série de shows do Banco do Brasil, com artistas perdendo os pudores de cantar músicas alheias. Depois de visitar Belo Horizonte, a ideia chega a São Paulo para três apresentações, no Espaço das Américas, entre quarta e sexta.
A programação abre com um coletivo rock and roll formado por Dado Villa-Lobos, João Barone, Leoni, Toni Platão e Liminha interpretando Beatles no dia 25 (sexta-feira). Eles terão como convidados André Frateschi, Marjorie Estiano, Paulo Miklos e Sandra de Sá.
Zeca Baleiro canta Zé Ramalho, no dia 24, e Maria Gadú faz covers de Cazuza no dia 25. Sendo cria de Zé Ramalho, de influências visíveis do paraibano, Zeca Baleiro deve fazer um tributo ao mestre. “Escolhi um repertório que contempla os clássicos do Zé, inevitáveis, e juntei alguns lados b, músicas menos conhecidas mas fortes também. Foi difícil chegar ao set final, porque queria ir além do óbvio de cantar Avohai e Admirável Gado Novo. Mas queria mostrar as muitas facetas da obra do Zé, o acento mouro de algumas canções, a influência leve mas latente do choro aqui e ali, a pegada forrozeira, o veneno do rock psicodélico”, diz Baleiro.
Sobre a porcentagem de Ramalho que corre em suas veias, Zeca responde. “Eu não saberia mensurar, mas há (influência), claro. Inclusive temos duas parcerias. Como há referência de toda a geração nordestina dos 1970: Belchior, Ednardo, Vital Farias, Geraldo, Alceu, Fagner, Cátia de França, Lula Cortes.”
Zeca adianta que, ao sentir a brincadeira ficando séria, fez uma estratégia para o último show. “A proposta era de relaxamento no início dos shows, mas ficou tão bonito sonora e visualmente que estamos planejando, numa parceria com o Canal Brasil, gravar o último da turnê, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Será dia 24 de maio, com direção da Monique Gardenberg.”
Dado Villa-Lobos diz que o grupo trabalhou duro, debruçado sobre um repertório inicial de 100 músicas dos Beatles. “A ideia era juntar a rapaziada para tocar Beatles, mas acabamos dando personalidade para isso, arranjando músicas do nosso jeito.”
As partes que destaca no show são muitas, mas sobretudo as junções inesperadas. “O solo de Drive My Car é o de Taxman. E no final, emendamos com The World. Depois fazemos Sargent Peppers com When a Little Help From My Friends, Lucy in the Sky e Strawberry Field Forever. André Frateschi em Oh, Darling é demais.”
Dado é dos tempos em que covers ainda não eram uma febre no rock and roll. Nos anos 1980, em Brasília, as ideias ferviam a uma velocidade que tiravam do páreo qualquer canção que não fosse música própria. Nem nos breaks dos ensaios a Legião Urbana dava-se o direito de relaxar. “A gente só queria saber de tocar músicas nossas. Fizemos um único cover dos Beatles , em um projeto do Studio SP, em São Paulo, quando tocamos You’ve Got To Hide Your Love Away. Se não me engano era aniversário da Revista Bizz”, lembra o guitarrista.
Renato Russo, no entanto, era louco pelos Beatles. “Crescemos ouvindo os caras. E Renato era um beatlemaníaco.” As gigs (encontros de músicos) rondam o momento de Dado. Ele aproveita para anunciar o início da temporada de seu programa Estúdio do Dado no dia 4 de maio, domingo, às 19h. Já foram gravadas entrevistas e apresentações de Caetano Veloso, Tião Macalé e Gilberto Gil. Na abertura, bem longe dos Beatles, Gil toca as músicas de seu mais recente disco, Gilbertos Sambas, que gravou com a obra de João Gilberto. Não deixa de ser um belo cover. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.