É um caso único na história do cinema. Paul Schrader, roteirista de grandes filmes de Martin Scorsese e diretor de obras como Gigolô Americano e Temporada de Caça, escreveu e realizou a prequel de O Exorcista, ou seja, a história do Padre Merrin antes do filme famoso de William Friedkin, em 1974. O estúdio não aprovou e chamou Renny Harlin para começar tudo de novo. A versão de Schrader será incluída entre os extras, quando Exorcista – O Início for lançado em DVD. Nesta seqüência que percorre o caminho inverso e volta ao começo, o Padre Merrin perdeu a fé confrontado com o horror do nazismo. Ele participa de escavações na África, tentando localizar relíquia desaparecida. Há uma possessão, claro – senão não haveria exorcismo -, mas não é aquela que você pensa, assistindo ao filme. Há uma reviravolta para sacudir o espectador.

Você pode estranhar o nome de Vittorio Storaro, o iluminador preferido de Bernardo Bertolucci, assinando a fotografia de obra, no fundo, tão pouco elaborada. A impressão é que tudo foi feito a toque de caixa. Harlin propõe uma série de citações à Polônia e a seu cinema. O Cristo de cabeça para baixo evoca o mundo em crise de Cinzas e Diamantes”, de Andrzej Wajda; o episódio (relatado) da possessão das freiras no convento de Loudun inspirou Madre Joana dos Anjos, de Jerzy Kawalerowicz; e o padre que tem de escolher quem vai morrer remete à trágica escolha de Sofia, que é a história de uma polonesa. Nada é aprofundado. O novo Exorcista tem a profundidade de um prato raso. Assusta aqui e ali, mas é tudo muito pobre. Renny Harlin já foi melhor.

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