Senhora envenena visitantes na peça ‘Serpente Verde’

A capacidade de distinguir o bem e o mal. Essa é a crença que alimenta a protagonista de “Serpente Verde, Sabor Maçã”, montagem que estreia hoje no Espaço Parlapatões. Em foco, estão as ações da Senhora G. Uma controversa personagem, interpretada por Lulu Pavarin, que crê ter a missão de livrar o mundo de todos aqueles que lhe pareçam indignos. Como se fizesse da sentença de morte uma espécie de ato máximo de justiça. “Ela acredita ser essa a sua missão”, observa a diretora Lavínia Pannunzio.

Fica evidente, nesse ponto, o cunho nitidamente filosófico da trama. Mas, nessa hora convém não esquecer que estamos diante de uma peça de Jô Bilac. Revelação maior da dramaturgia carioca recente, o dramaturgo é dono de um estilo marcadamente satírico. Uma verve cômica com a qual contamina todos os assuntos. Mesmo os mais sérios.

Em jogo, estão questões que movimentaram séculos e séculos de pensamento. Tudo isso, contudo, merece tons de absurdo em suas mãos. Matizes de exagero, de descontrole, de acidez.

Discípulo confesso de Nelson Rodrigues, Bilac não tem pudor de impregnar sua obra da mesma combinação de tragédia e ironia que víamos no autor de “Vestido de Noiva”. Lançou mão do procedimento em vários de seus trabalhos. E talvez esteja aí o caminho para compreender a repercussão de criações como “Cachorro!”, “Rebu” e “Savana Glacial”. “A tragédia e o humor convivem, se confundem. Acho que, no fundo, é tudo uma coisa só”, considera o jovem autor, que escreveu “Serpente Verde, Sabor Maçã” em parceria com Larissa Câmara em 2008.

É servindo chá aos seus convidados que a Senhora G. decide quem deve viver ou morrer. Em um bule dourado, guarda uma bebida inofensiva. No jarro prateado, tem um preparado venenoso que oferta àqueles que dão sinais de falta de caráter. Trancada em casa, ela espera por possíveis compradores para o imóvel. “Infelizmente até hoje não se apresentou ninguém digno do meu doce lar”, diz a personagem, que se autoproclama uma mentirosa compulsiva.

Apenas um detetive disfarçado consegue cativar a impiedosa personagem. Vítima de seus próprios delírios – alucinações que a fazem conversar, por exemplo, com as xícaras e bules da casa -, é incapaz de ver com clareza os propósitos do homem desconhecido. Faz dele uma tela em branco para a projeção dos próprios desejos. Gradativamente, a implacável Senhora G. deixa transparecer sua parcela de carência. Sonha-se estrela dos antigos musicais de Hollywood, supõe sua vida como um imenso e brilhante show televisivo. As informações são do Jornal da Tarde.

Serpente Verde, Sabor Maçã – Espaço Parlapatões (Praça Roosevelt, 158). Telefone (011) 3258-4449. 5ª e 6ª, 21 h. R$ 30. Até 4/11.

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