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Sempre soberano

Em 8 de dezembro de 1994, Tom Jobim morreu em um hospital de Nova York. Após uma cirurgia para retirar um tumor na bexiga, sofreu uma parada cardíaca. A inesperada notícia deixou os amigos em choque.

Exatos 25 anos depois, eles continuam se lembrando da falta que o ‘maestro soberano’, assim chamado por Chico Buarque na música Paratodos, faz. Mas a obra de Jobim nunca deixou de despertar interesse. No ano que vem, dois projetos irão celebrar momentos importantes da trajetória do compositor.

Um documentário previsto para 2020 contará a história do disco Elis & Tom. Com roteiro de Nelson Motta, a produção terá como base filmagens inéditas que o diretor Roberto de Oliveira, à época empresário de Elis Regina, fez durante as gravações do álbum em Los Angeles, no início de 1974.

Os bastidores do álbum foram atribulados. Elis e os músicos foram para os EUA, onde Jobim morava, para convidá-lo a gravar um disco. A princípio, ele não queria Cesar Camargo Mariano, pianista casado com a cantora, como arranjador. Vencidas as primeiras resistências, Cesar começou a fazer os arranjos. Quando os músicos chegaram ao estúdio com instrumentos elétricos, que Jobim não gostava, o compositor disse que “a conta de luz do estúdio ia ficar um absurdo”.

Ele também implicou com o fato de Cesar chamar o piano acústico de piano de pau. “Aloysio, me socorre”, disse Jobim ao produtor Aloysio de Oliveira. Os ânimos foram aplacados e Elis e Jobim lançaram o disco em grandiosas apresentações no Rio e em São Paulo.

Nos primeiros meses de 2020, será lançado, pelo Selo Sesc, um álbum com Nana Caymmi interpretando músicas do compositor. Dori Caymmi assina os arranjos, que contam com orquestra. A cantora afirma que o repertório foi inspirado em dois álbuns clássicos dedicados a músicas de Jobim e letras de Vinicius de Moraes – Canção do Amor Demais (1958), de Elizeth Cardoso, e Por Toda Minha Vida (1959), de Lenita Bruno. Entre as faixas que Nana gravou estão Eu Sei Que Vou Te Amar, Sem Você e Soneto da Separação.

Nana conta que Jobim é uma “paixão antiga”. Durante décadas, os dois foram próximos. “É uma tristeza imensa a ausência dele. Tom gostava de bolero pra caramba, como eu gosto, a gente conversava muito sobre os grandes compositores. Tenho muita saudade, na vida da minha família ele era muito presente”, afirma Nana. Ela reforça que está cansada de fazer shows. Mesmo assim, volta aos palcos em 2020 interpretando Jobim.

A viúva do compositor, Ana Lontra Jobim, revela que material inédito pode sair em breve. “Vamos nos dedicar ao que foi gravado em vídeo. Há também alguns áudios muito bons.” Ela administra as obras do compositor por meio das editoras Jobim Music, no Brasil, e Corcovado Music, nos EUA. Graças ao papel dela, todos os discos de carreira de Jobim estão disponíveis nas plataformas digitais. “Temos uma equipe pequena e eficiente. Manter a obra dele nas mídias é um trabalho que tem que ter uma atenção permanente”, afirma Ana.

O cuidado com a imagem de Jobim é a principal preocupação de Ana. Músicas dele não são autorizadas para uso em propagandas partidárias nem de bebidas alcoólicas. Ela não tem uma estimativa do volume de gravações e execuções das canções do maestro, já que no Brasil não se exige autorização prévia para registrá-las em disco. Nos EUA, é diferente, com o pedido feito para a Corcovado Music.

Mas uma consulta rápida ao site All Music, plataforma de dados sobre música, mostra 21 discos lançados este ano na Europa e nos EUA que contam com músicas de Jobim. Mike Love, fundador dos Beach Boys, gravou Garota de Ipanema em inglês e português. Chrissie Hynde, vocalista da banda The Pretenders, fez um álbum de jazz com uma versão de Once I Loved (O Amor em Paz). Depois de 25 anos de sua morte, Jobim continua sendo do mundo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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