Sem rumo certo, música paranaense toca pouco e não chega às lojas

A polêmica acerca da obrigatoriedade na transmissão de pelo menos 20% de música paranaense nas rádios do Estado pendeu em definitivo para o lado dos que eram contrários ao projeto de lei do vereador Mario Celso Cunha. Na terça-feira (21), o prefeito de Curitiba, Beto Richa, vetou o projeto de lei n.º 2001 que obrigava as rádios a conceder 1/5 de sua programação para músicas de compositores paranaenses ou interpretadas por artistas do Estado. Segundo a assessoria da Prefeitura, o veto está baseado na Constituição Federal, artigo 22, inciso 4: ?compete à União legislar sobre água, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão?. No dia 24 de maio o projeto havia sido aprovado por unanimidade na Câmara de Vereadores de Curitiba.

O projeto foi idealizado devido ao desastre comercial que a música paranaense representa a nível nacional e estadual. Com poucas cópias de CD chegando ao mercado fonográfico, a Associação dos Compositores do Estado do Paraná criou um manifesto a favor do controle de conteúdo das emissoras de radiodifusão. Para isso, promoveram eventos sindicais e pesquisas defendendo mudanças legislativas. Segundo o vice-presidente da Associação dos Compositores do Estado do Paraná, Manoel F. de Souza Neto, o Paraná possui uma cadeira no Conselho Nacional de Cultura, onde o tema da programação das rádios está sendo discutido na Câmara Setorial de Música. ?As rádios vão na onda das gravadoras e todos acabam sendo vítimas de um sistema falido.? Para ele, os 20% podem colocar a música paranaense no mapa. ?Ou a gente vira a mesa com esse manifesto artístico ou a gente nunca vai ser nada?, afirmou.

Zé Rodrigo teme possível
represália das rádios.

Na onda dessa polêmica, o empresário e vocalista da banda The Soulution, Zé Rodrigo, declarou ser contra os 20%. ?As rádios já tocam música paranaense. Bandas como o Namastê e Polexia estão tocando. Curitiba não tem músicas com qualidade para tocar 20% da grade, a qualidade da programação cairia.? Para ele, obrigar os programadores de rádio não vai adiantar. ?Eles ficariam revoltados e as rádios poderiam até se voltar contra os músicos.? A mesma argumentação foi feita pela Associação das Emissoras de Rádio do Paraná (Aerp), que durante a semana afirmou que o Paraná não possuía tanta música de qualidade.

Com opinião contrária, o cantor e compositor João Lopes é totalmente a favor da lei. ?Deveria tocar mais de 20%. Música a gente tem, o que falta é o pessoal se unir para entrar de vez no mercado.? Após o veto da lei, Lopes mostrou seu descontentamento: ?Nessas ocasiões a gente até sente vontade de desistir da música?. Na pesquisa realizada pela da Associação dos Compositores do Estado do Paraná, existem 1.150 títulos com quase 10 mil músicas no Estado.

CD possui faixa incluída
na coletânea Transareggae
– rádio Transamérica.

Caso a lei ainda seja aprovada, outros pontos também já fazem parte da discussão sobre a programação. Sobre a questão de quem definiria qual parte da música paranaense a rádio tocaria, Manoel Neto afirmou que a escolha artística seria tão danosa quanto o atual ?jaba? (taxa paga pelas gravadoras para as rádios executarem seus artistas). ?Situações de protecionismo e reserva de mercado são comuns na economia mundial, e com a música não é diferente?, afirma. Outro ponto é a questão dos horários de transmissão que a música paranaense receberia. Para Zé Rodrigo, as rádios iriam acabar jogando a música regional para a programação da madrugada. A Associação dos Compositores já entrou com pedido para alterar o projeto de lei. Com as mudanças seria especificado um período de seis horas e não o dia inteiro.

Segundo o Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais, (Ecad/PR), o valor arrecadado no Estado é de aproximadamente R$ 800 mil por mês em autorais de música. Caso a lei fosse aprovada, as 32 emissoras de rádio da capital pagariam uma ordem de R$ 202 mil por ano para os músicos e autores do Paraná. Supostamente o mercado local se aqueceria, aumentando o número de apresentações e vendas de CDs. Segundo Manoel Neto, em cinco ou dez anos o Estado já estaria conquistando um mercado forte para manter a indústria local.

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