No quadro dos 20 anos da Mostra de Tiradentes, houve nesta quinta-feira, 26, um debate comemorativo dos dez anos da Mostra Aurora. Cinco vencedores debateram o significado da Aurora. Embora o curador Cleber Eduardo relute em usar a palavra ‘experimental’, a Aurora virou sinônimo de inquietação e vitrine/referência, inclusive internacional, do cinema brasileiro mais autoral e independente. Pedro Diógenes, um dos quatro diretores de Estrada para Ythaca, lembrou o que foi exibir e vencer a mostra com aquele filme farol.
“A repercussão foi enorme em Fortaleza. Era a prova de que é possível fazer cinema num Estado pobre e violento como o Ceará.” Desde a época, e através de coletivos como o Alumbramento, tem havido uma cena forte de cinema em Fortaleza, mas a continuidade está ameaçada pelo novo governo, que pode cortar verbas das escolas de cinema e dança. Fora da mesa, Eduardo Valente, um dos fundadores da Mostra Aurora e atual curador do Festival de Brasília, pediu a palavra para anunciar que o que se desenhava agora é fato – o Brasil não vai mais contribuir para a manutenção da Escola de Cinema de Los Baños, em Cuba. Independentemente de ideologia, a escola criada por Gabriel García Márquez adquiriu fama em todo o mundo e sempre teve alunos e professores brasileiros.
O sonho acabou. Notícias como essa têm repercutido muito em Tiradentes. Há apreensão quanto aos rumos da Ancine. Um cinema crítico e inquieto como o de Tiradentes ainda terá espaço ou podemos nos preparar para a ditadura do mercado?
Um filme típico da Mostra Aurora passou na noite de quarta, 25 – Sem Raiz, de Renan Rovida. O diretor e sua equipe fizeram profissão de fé anticapitalista no palco do Cine-Tenda. Como? O filme divide-se em quatro quadros, ou segmentos – Sem Emprego, Sem Lucro, Sem Propriedade e Sem Comunidade. As protagonistas são mulheres na contracorrente do estado do mundo. Um momento foi aplaudido em cena aberta. A garota vai procurar informação para montar sua empresa. A orientadora tenta convencê-la a não fazer o que quer. “Ninguém faz o que quer. A gente tem de fazer o que dá dinheiro.” Só a utopia de Tiradentes – e da Mostra Aurora – para abrigar esse tipo de humor sinistro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.