Sem fronteiras

Gustavo Falcão já era um nome conhecido no teatro e no cinema. Um de seus mais importantes trabalhos, A Máquina, é referência nos palcos e foi também para as telonas sob a supervisão de seu tio João Falcão. Na tevê, apesar de já ter feito As Filhas da Mãe, na Globo, em 2001, quando viveu o mímico Faísca, o ator não conseguiu grande repercussão. Agora, em Cobras & Lagartos, ele experimenta o gostinho da popularidade de seu Jonas, um personagem dividido entre a religião e a malandragem. Feliz com o reconhecimento, o ator comemora a possibilidade de poder mostrar seu trabalho nos três meios. ?Não temos que criar cisões entre cinema, tevê e teatro. Quanto mais essas áreas puderem trabalhar juntas, mais rica e interessante será a cultura brasileira?, defende.  

P – Na época do início da novela, o diretor Wolf Maya o apontou como um dos jovens talentos de Cobras & Lagartos. O convite para integrar o elenco partiu dele?

R – O Wolf já me conhecia do cinema e do teatro. Sempre dizia que quando tivesse uma oportunidade, gostaria de contar com a minha presença em algum trabalho dele. Em 2004, quando fez Senhora do Destino, me chamou para fazer o personagem Shao Lin, mas não pude aceitar porque estava envolvido com outros projetos. Agora, em Cobras & Lagartos, pensou em mim novamente e topei. Nosso entendimento sempre foi bom.

P – Seu personagem na novela, o Jonas, oscila entre um perfil religioso e mundano. Como você procurou compor uma figura com nuanças tão contraditórias?  

R – Procurei buscar muitas referências em livros. Geralmente faço isso em todos os trabalhos. Li bastante Santo Agostinho e acabei resgatando coisas da minha vida, já que tenho uma família católica e estudei em colégio de freiras. De resto, para o gosto pelas mulheres, pela boa vida e até pela mania do furto, deixei que as coisas viessem da minha relação com o personagem do Otávio Augusto, que é meu pai na trama. Prestei muita atenção no conflito do Jonas, para que ele não caísse no ridículo.

P – Apesar de já ter feito trabalhos anteriores na tevê, sua experiência é muito maior no teatro e no cinema. Como é circular agora por esses três meios?

R – A tevê é uma nova possibilidade. Dá chances de experimentar coisas novas. O dinamismo é maior, a relação do ator com a câmara é diferente. No cinema, ela vai para você. Na tevê é o ator que precisa aprender a jogar com a câmara, com o cenário. É quase que um teatro de costumes para mim. O que muda é a relação com o personagem e com a história. No teatro você convive muito mais com os atores, ensaia todos os dias e isso dá uma cara diferente para o trabalho. Gosto das três linguagens. Não acho a tevê um trabalho menor. A gente está vivendo um momento em que determinadas convenções estão caindo por terra. Os atores e diretores estão circulando por todas as áreas e esse intercâmbio é bacana.

P – O fato de já existir um artista na família, o cineasta João Falcão, seu tio, influenciou o seu interesse por atuar?

R – Estava no sangue. O João é o mais novo de treze irmãos e meu pai, um dos mais velhos. Quando todos os tios se reuniam, tocavam e adoravam cantar. Também tinha teatrinho no Natal. Sempre houve interesse pelas artes, mas ninguém assumia isso como profissão. Então o exemplo do meu tio João foi importante para mim. Porque ele assumiu essa paixão como meio de vida e se deu muito bem.

P – Por falar em assumir paixões como meio de vida, sua opção desde o início foi viver de arte?

R – Cheguei a cursar publicidade, mas na mesma época comecei a fazer cursos de teatro por curiosidade, só entre amigos. Não pensei que pudesse virar coisa séria. Mas aí conseguimos uma noite para nos apresentar no teatro, em Recife. Quando subi no palco, aconteceu uma coisa mágica. E de lá para cá nunca mais parei.

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