Pela primeira vez em sua história, a Jornada Nacional de Literatura desiste de uma edição por falta de patrocínio. O orçamento inicial era de R$ 3,5 milhões, valor que poderia ser captado por meio das leis Rouanet e de Incentivo à Cultura (RS). Com as dificuldades iniciais, diminuíram para R$ 3 milhões. Depois, para R$ 2,5 milhões. Não adiantou.
Nunca foi fácil organizá-la e, nas últimas três décadas, houve momentos em que Tânia Rösing, a idealizadora e coordenadora do evento, pensou em se resignar. Mas, mesmo aos trancos e barrancos, as lonas de circo eram montadas ano sim, ano não no câmpus da Universidade de Passo Fundo, para que 18 mil crianças e adolescentes e entre 3 mil e 5 mil professores pudessem participar de encontros com escritores e pesquisadores. A semana do evento costuma ser o encerramento de uma etapa do grande projeto de formação de leitores que é a Jornada – iniciado em sala de aula com a leitura de obras literárias e com trabalhos feitos a partir desses livros. A prática é constante nas escolas da região – em ano de Jornada ou não.
“Eu sempre dizia que o impossível não existe. Este ano, ele se fez presente”, disse Tânia Rösing ao jornal O Estado de S.Paulo. O programa estava fechado e o tema seria Leituras em Liberdade. O cancelamento deve ser anunciado nesta quarta-feira, 20.
Segundo a professora, mesmo empresas não afetadas pela crise usaram “a conjuntura financeira” como desculpa. “Acha que elas estão mal? Não, estão apenas na onda, surfando com a crise”, disse. Mas o silêncio vem de todos os lados. “Visitamos o governador (José Ivo Sartori) e até hoje não nos disseram se o Banrisul, que deu R$ 200 mil na edição passada, ajudaria com alguma coisa. Procuramos o secretário da Educação (Carlos Cunha) para pedir a liberação dos professores e nenhuma resposta. Pedimos audiência com o ministro da Educação (Renato Janine Ribeiro), que já veio a Passo Fundo como escritor, e nada. As portas do Ministério da Cultura estão fechadas. Assim não dá. Ou fazemos uma coisa decente, de acordo com o conceito desenvolvido, ou não fazemos nada. E não vamos fazer, é definitivo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.