Selton Mello já deu uma cara ao cinema brasileiro (da Retomada) antes de se firmar como grande diretor brasileiro com O Palhaço. Até Ralph Ineson sabia quem é ele. Ralph quem? Você conhece o cara – de Harry Potter e Game of Thrones. Selton já fez de tudo – palhaço, traficante, sedutor. Aventura na neve é sua primeira. Repare na paisagem. Soundtrack, que estreia na quinta, 6, supostamente – e isso é muito importante – passa-se no Ártico, onde o fotógrafo Selton Mello se junta a um grupo de pesquisadores que estuda os efeitos do aquecimento do planeta. Ineson faz um cientista.

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A curiosidade é que Soundtrack foi feito em estúdio, no Rio. Durante sete semanas, o inglês de Leeds deu duro em terras cariocas. “Na primeira semana, deu para conhecer um pouco a cidade, fazendo os típicos programas de turista. Nas seis restantes, ficávamos seis dias por semana dentro do estúdio, atolados em neve falsa e sentindo frio de verdade, porque a temperatura era baixíssima.” Ver o filme pronto foi uma surpresa para ele. “Toda aquela extensão gelada do Ártico. E o filme consegue criar a sensação de isolamento naquele infinito. Não é pouca coisa.”

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Soundtrack é “quase bom”, segundo o crítico do jornal “O Estado de S. Paulo”, Luiz Zanin Oricchio, que acha que, a despeito de todo o cuidado de produção e interpretação, “falta alguma coisa”. Selton faz um fotógrafo que viaja para um centro de pesquisa no gelo para tirar selfies que capturem as sensações que lhe vão provocar as músicas que compõem a trilha (soundtrack) que organizou com tanto cuidado. No local, encontra, entre outros cientistas, um botânico brasileiro (Seu Jorge) e o especialista inglês em aquecimento global (Ineson). Discutem arte, o estado do mundo. À medida que o filme se encaminha para o fim vem surpresa. Olha o spoiler!

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“Gostei do roteiro, quando me foi proposto. Achei os personagens bem verdadeiros, com um desenho consistente. E, ao saber como seria feito, achei que seria interessante participar da produção.” Tendo se iniciado como dramaturgo e diretor de teatro – em Leeds -, Ineson, de 47 anos, prosseguiu carreira no audiovisual, fazendo muita TV e cinema. Participou de Harry Potter, como Amycus Carrow – um Comensal da Morte – em pelo menos três filmes, no Príncipe Misterioso e em Relíquias da Morte 1 e 2. E fez William em The Witch/A Bruxa, premiado em Sundance e produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira.

No material de imprensa de Soundtrack, Selton explica o que o atraiu no projeto. “O isolamento é uma necessidade para o ser humano. Eu, pelo menos, gosto muito desses momentos em que o silêncio pode falar.” E Ineson? “Fiquei muito impressionado com o elenco brasileiro. Admiro muito atores que conseguem se expressar numa segunda língua. Selton tem mais facilidade que Seu Jorge com o inglês, mas eles captavam as complexidades de seus personagens e as traduziam em palavras e gestos como qualquer grande ator com quem trabalhei.” E que grandes atores foram esses?

“Em Harry Potter, foi um privilégio conviver com Alan Rickman, Michael Gambon. Eram sets gigantescos, com centenas de figurantes e técnicos, e a mesma coisa ocorria em Game of Thrones (em que fez o capitão Dagmer Cleftjaw). Em The Witch, a equipe e o set eram reduzidos, mas isso não significa que lá e cá não fossem exigidos concentração e seriedade.” E a dupla de diretores Manitou Felipe e Bernardo Dutra, que se assina 300 ml? “Eles vinham da publicidade e estavam encarando o desafio de mostrar competência em outra mídia. Gosto muito da maneira como utilizam a paisagem para criar confinamento. E a trilha como personagem é um toque de mestre.”

Selton deve estrear seu novo longa em agosto – chama-se justamente O Filme de Minha Vida. Nesta terça-feira, 4, ele o exibiu numa sessão comemorativa do centenário do exibidor Luiz Severiano Ribeiro, no Rio. Ralph Ineson acaba de concluir uma de suas melhores experiências como ator. “Estou no novo filme de (Steven) Spielberg, Jogador Número 1, que deve estrear no ano que vem.” Acha que será “um grande Spielberg”. A história possui elementos de Minority Report – A Nova Lei e A.I. – Inteligência Artificial, desenrolando-se nos mundos real e virtual, por meio de um personagem, Wade Watts, que participa de um jogo, The Oasis. “Steven sabe exatamente o que quer, e como motivar a equipe a chegar lá. Faz isso sem nenhum despotismo.” E Ineson conta – “O filho de uma das atrizes foi visitar a mãe no set. O garoto ficou superexcitado de estar com Steven Spielberg e desatou a falar de dinossauros. Uma produção de milhões, um set numeroso e Steven parou tudo para conversar com ele. Seu diretor de produção desesperava-se e ele pedia calma, que já ia terminar, mas seguia conversando. Nunca vi nada igual.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.