Foto: Divulgação |
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Selton Mello faz papel de traficante. |
Ação! A câmera acompanha Selton Mello num movimento lateral. Escoltado pelo guarda, ele entra na cadeia e o plano continua sendo filmado até a primeira fala com Flávio Bauraqui. Toda a seqüência dura em torno de um minuto e, logo em seguida, o diretor Mauro Lima vai pedir ao fotógrafo Uli Burtin que acelere o movimento. Ele quer o plano mais rápido, sem ser vertiginoso. O cenário é a antiga fábrica da Behrling, na Rua Orestes, no Bangu. É impressionante. Graças à primorosa direção de arte de Cláudio Amaral Peixoto, virou uma cadeia perfeita – e opressiva.
É aqui que Mauro Lima filma, numa terça-feira de manhã, uma cena decisiva de Meu nome não é Johnny. O filme produzido por Mariza Leão baseia-se no livro de Guilherme Fiúza sobre João Guilherme Estrella, o jovem carioca que, nos anos 80s, ingressou no tráfico. Sem arma nem violência, usando quase exclusivamente seu poder de persuasão sobre as ?vítimas?, o jovem João virou o poderoso chefão das drogas na zona sul do Rio, abastecendo a burguesia e a intelectualidade endinheiradas. Mas um dia o sonho acabou e ele foi preso. É a cena que está sendo filmada neste dia. Selton Mello, que faz João, ingressa no mundo sórdido da prisão.
Bye-bye, conforto da zona sul. Flávio Bauraqui é Charlie, que manda ali dentro, pede um cigarro a Selton/João. Ele dá o cigarro e o outro pede o maço inteiro. Agradece, ironicamente, daquele jeito que Bauraqui – grande ator brasileiro, de filmes como Madame Satã, Quase dois irmãos e Os 12 trabalhos – sabe fazer. Obrigado, Johnny. Selton reage e diz a frase que dá título ao filme e ao livro no qual está baseado – Meu nome não é Johnny.
No intervalo entre planos, enquanto o diretor de fotografia e sua equipe remontam a luz, Selton Mello tem tempo para confessar – fica encanado com este tipo de frase muito importante. Lembra Fernanda Torres no filme de Bruno Barreto, quando pergunta O que é isso, companheiro? Quer repetir a cena com várias entonações, para dar ao diretor a chance de escolher a melhor. Mauro não parece muito tocado pelas dúvidas de seu ator. Pergunta se o plano ficou bom para o fotógrafo. Vai filmar outro por segurança, mas dá a ordem – ?Copia!? -, o que significa, em linguagem de cinema, que o plano é válido.
Lá fora há um sol tipicamente carioca. A temperatura ainda não chegou aos 40 graus, mas promete. No set, não há nada desta luminosidade. O ambiente é escuro, sinistro. Os figurantes que fazem os ?presos? usam roupas coloridas. Compõem um universo heterogêneo de cores, raças, idades, até sexos, pois há ali dentro o preso travestido, que age como mulher. ?Todo mundo mantém a marcação?, pede o assistente de direção. Mauro Lima parece a imagem da autoconfiança e da calma. Levanta de sua cadeira para dar instruções, não eleva a voz em nenhum momento. Na maior parte do tempo, fica ali a distância, acompanhando o movimento (e a filmagem) pelo monitor de vídeo. ?É a vantagem de ter uma equipe competente??, explica. ?Ele se estressa por mim? – aponta o assistente. Está tudo pronto para mais um plano. ?Agora mais rápido??, pede o diretor, que faz sinal para o assistente. De novo, baixa o silêncio no set de Meu nome não é Johnny.
O jornalista visitou o set a convite da produção.
