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Seis brasileiros concorrem ao ‘Oscar’ da dança

Pela primeira vez na história, o Prix Benois de la Danse – considerado o Oscar da dança – tem seis brasileiros indicados em todas as categorias. A coreógrafa Deborah Colker, os bailarinos Amanda Gomes e Daniel Camargo, os músicos Jorge Dü Peixe e Berna Ceppas e o cenógrafo Gringo Cardia concorrem com alguns dos maiores nomes da arte em todo o mundo. A cerimônia de premiação ocorrerá nos dias 5 e 6 de junho no Teatro Bolshoi, na Rússia.

Também é a primeira vez que um coreógrafo brasileiro está entre os selecionados pelo júri. Deborah Colker foi escolhida por Cão Sem Plumas, que sua companhia estreou em 2017. O trabalho é inspirado no poema de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), uma homenagem ao rio Capibaribe, que corre por Pernambuco. Pela mesma obra, outras indicações inéditas: Jorge Dü Peixe e Berna Ceppas concorrem ao Benois na categoria compositores e Gringo Cardia, na de cenógrafos.

“Fiquei super-honrada. Todas as vezes que sou indicada para prêmios, sempre digo que a indicação é que é o importante. Ganhar já é outra etapa. Tomara que ganhe. Mas a indicação, ter esse reconhecimento já vale muito”, diz Deborah. Cão Sem Plumas fica em cartaz até domingo (dia 22) no Teatro Oi Casa Grande, no Rio. Depois, segue em turnê por várias cidades do Brasil e, no segundo semestre, se apresenta nos Estados Unidos e na Argentina.

Amanda, de 22 anos, é a segunda brasileira indicada à premiação na categoria bailarinas. Fernanda Tavares Diniz havia participado da disputa em 1997. Amanda é primeira-bailarina do Ballet da Ópera de Kazan, na Rússia, e há alguns anos vem se destacando no cenário da dança mundial. Ex-aluna da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville, Santa Catarina, a goianiense ganhou a medalha de ouro no International Ballet Competition em Varna, na Bulgária, em 2016, e a medalha de prata no 13o Moscow International Ballet Competition, em 2017.

“Levei um susto quando vi as bailarinas que foram indicadas comigo. Primeiras-bailarinas do mundo inteiro e uma das mais famosas, que é a Svetlana Zakharova. Minha primeira reação foi: ‘O que estou fazendo ali?’ Bailarinas que sempre vi desde pequena, nas quais me inspirei. A Svetlana mais ainda. Todos, no mundo inteiro, se inspiram nela. Ainda estou em choque. Fico meio sem acreditar”, diz Amanda.

Natural de Sorocaba, no interior paulista, Daniel Camargo, de 26 anos, é bailarino principal no Dutch National Ballet, nos Países Baixos. Entre 2009 e 2016, dançou no Stuttgart Ballet, na Alemanha. Daniel é outro jovem artista bastante laureado. Entre os prêmios que recebeu estão o Deutscher Tanzpreis (Prêmio da Dança Alemã) e o prêmio da audiência do The Erik Bruhn Prize, no Canadá, ambos em 2011. Daniel foi aluno na Escola de Dança Teatro Guaíra, em Curitiba, e na John Cranko School, em Stuttgart. Antes dele, outros três brasileiros foram indicados ao Benois na categoria bailarinos: Marcelo Gomes (em 2008), Thiago Bordin (em 2010) e Gustavo Carvalho (em 2017). Gomes e Bordin ganharam o Benois.

Segundo Deborah, a indicação serve como um estímulo. “A batalha é essa. É todo dia. Produzir os espetáculos, manter uma companhia criativa, trabalhando, criando. A cada espetáculo, a gente se renova, busca caminhos novos. É uma companhia viva, dinâmica, fazendo aula todos os dias, estudando, se aperfeiçoando, buscando uma excelência técnica. A gente tem uma demanda para sustentar tudo isso em todos os níveis: financeiro, de autoestima, de esperança, de acreditar… E dá medo: vai ter patrocínio, não vai ter. Vai acabar, não vai acabar. O teatro fechou. O que vai acontecer? Dá um medo desse futuro. Mas a gente tem de continuar aqui. Dizem que sou incansável, só que não vou negar que cansa”, diz a coreógrafa.

Para Amanda, as indicações de seis brasileiros ao Benois é motivo de orgulho. “Você vê, tantos brasileiros indicados a um prêmio internacional… Com esse problema na cultura, como a gente viu agora com o Theatro Municipal (do Rio), com os bailarinos sem salários… É triste que no nosso País não nos valorizam, que muitos de nós têm de sair do Brasil. Mas temos de ficar muito felizes porque, pelo menos de alguma forma, somos reconhecidos. As indicações a esse prêmio são maravilhosas para o Brasil. Temos de nos orgulhar muito da nossa capacidade e dos nossos artistas. Independentemente do resultado, todos nós já somos vitoriosos”, afirma Amanda.

Em 2017 – no ano em que completou 80 anos – a bailarina, coreógrafa e diretora Marcia Haydée recebeu o Benois especial por sua trajetória artística. Neste ano, também pela primeira vez, a premiação contou com uma jurada brasileira, a primeira-bailarina, coreógrafa e professora do Theatro Municipal do Rio Nora Esteves. Criado em 1992 pela Associação Internacional da Dança (chamada atualmente União Internacional da Dança), o Benois de la Danse tem como presidente do júri o russo Yuri Grigorovich, diretor do Teatro Bolshoi entre 1964 e 1995.

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