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Sebastián Lelio filma amor entre mulheres e reafirma talento em ‘Desobediência’

Como seu compatriota Pablo Larrain, o chileno Sebastián Lelio vem levando uma carreira internacional no cinema de língua inglesa, ancorado no prestígio que lhe valeram dois filmes – Gloria e Uma Mulher Fantástica. Pelo segundo, recebeu o Oscar de filme estrangeiro. Depois, dirigiu Desobediência, que estreia nesta quinta, 21, e tem, em fase de pós-produção, outro Glória. Será um remake? O Gloria inglês tem Julianne Moore – no papel de Paulina García -, Caren Pistorius e Michael Cera.

Desobediência é um bom título para definir o tipo de personagem que atrai o autor chileno. Sejam mulheres cis ou trans, suas personagens rebelam-se contra o mundo hostil. Gloria, sentindo-se utilizada, inferniza a vida do amante e Daniela Vega, a mulher fantástica, luta para enterrar o companheiro. O mundo não costuma ser solidário com os rebeldes. É preciso resistir.

As personagens de Lelio resistem. Rachel Weisz e Rachel McAdams são suas novas guerrilheiras (desarmadas?). O filme começa com uma cena belíssima – um rabino numa sinagoga estabelece as diferenças de três categorias criadas por Deus: anjos, animais e humanos. Só os últimos têm a capacidade de pensar, e desobedecer. Weisz volta para casa, para o enterro do pai (o rabino). Reencontra sua antiga paixão, que a levou a ser rejeitada pela comunidade, agora casada com rabino jovem que pode substituir seu pai. Forma-se o triângulo. As duas Rachel têm tórrida cena de sexo.

Numa sessão especial do filme em São Paulo, muitos casais de idosos levantaram-se e abandonaram o cinema. É curioso, mas, em Uma Mulher Fantástica, também havia sexo, e pesado – as cenas de boate -, mas era outro público, mais tolerante. Em definitivo, Desobediência reafirma o grande talento de Lelio e entra para ser um dos mais belos filmes do ano. O desfecho é muito maduro, com um misto de renúncia e superação. E o ator que faz o rabino jovem, Alessandro Nivola, é muito bom. O filme começa e termina com discursos, ou pregações em sinagogas. O sexo é uma ferramenta para uma investigação mais profunda das dores humanas.

É o que também ocorre em outros famosos filmes sobre lesbianismo – Carol, de Todd Haynes, com Cate Blanchett e Rooney Mara; Ligadas pelo Desejo, com Jennifer Tilly e Gina Gershon, no qual talvez se encontrem as chaves para as cirurgias de mudança dos irmãos, agora irmãs Wachowski; e Pária, de Dee Rees, sobre uma jovem negra de periferia que descobre que ser lésbica só vai fortalecer a discriminação que sofre.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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