Para chegar à sala teatral do Espaço dos Satyros 2, na Praça Roosevelt, em São Paulo, o espectador percorre até o fim o corredor de entrada, desce uma escada circular, chega a um saguão na penumbra, depois desce outro lance de escada até acomodar-se nas arquibancadas da sala pequena de 50 lugares. Não podia ser mais pertinente encenar nessa geografia o Justine, baseado no romance homônimo do Marquês de Sade (1740-1814).

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O autor é considerado maldito, cujos livros, durante sua vida e mesmo muitos anos depois de sua morte, foram censurados, sempre publicados clandestinamente. Justine estreia amanhã encerrando a trilogia libertina dos Satyros, iniciada com A Filosofia na Alcova e 120 Dias de Sodoma, ambas ainda em cartaz na sede do grupo, na Praça Roosevelt. Sade foi contemporâneo de Rousseau (1712-1778), cujo pensamento de que o homem era bom por natureza e a sociedade o corrompia era o inverso das ideias que defendia como libertino.

Para Sade, egoísmo, volúpia, luxúria e crime eram impulsos naturais e o homem só seria feliz dando plena vazão a eles. A julgar pelo ensaio acompanhado pela reportagem, a encenação de Justine é reveladora da experiência acumulada. É plena de soluções surpreendentes, algumas brilhantes, na direção segura de Vázquez. Reentrâncias sob uma plataforma servem à perfeição como celas de um convento; o mezanino pode abrigar ora o júri em um julgamento, ora a plateia ruidosa na reconstituição de um crime; nem a escada que leva à saída é desprezada.

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