A segunda temporada de Minha nada mole vida, ?sitcom? da Globo, está mais família do que a primeira fase. Mas continua com um texto moderno e cheio de tiradas instantâneas, que fogem ao humor tradicional. Embora a abertura do programa seja a mesma – com uma simpática coreografia executada por Luiz Fernando Guimarães e David Lucas, além da música Não é mole não, de Ivo Meirelles – a produção está bem mais elaborada. As relações contemporâneas ainda estão no centro da discussão, mas o protagonista Jorge Horário, interpretado por Luiz Fernando, se tornou um outro personagem. Assim como Silvana, de Maria Clara Gueiros, e Hélio, de David Lucas.
Esteticamente, o seriado também tem novidades. Está mais bonito e colorido. A família ganha mais destaque nos episódios, enquanto o Jorge Horácio by Night fica mais enxuto. O fictício programa tomou muito espaço na primeira temporada, embora contribuísse para apresentar ao público os personagens secundários da produção.
A produtora homossexual Produção, vivida por Dani Barros, volta com mais força e menos sutileza na segunda temporada. Se na primeira fase sua opção sexual ficava implícita, agora Produção fala até sobre suas conquistas e romances. Ela é o braço direito de Jorge Horácio no trabalho, embora travem constantes duelos. Produção é quem resolve os problemas entre entrevistador e entrevistados. Carlos Mariano, que interpreta o Cabreira, o afetado cinegrafista do programa de Jorge, ganha uma ou outra frase, deixando de ser apenas uma ?aparição?. Já Bianca, a recepcionista lésbica do apart hotel, vivida por Letícia Isnard, mantém a grosseria e implicância contra o apresentador.
Minha nada mole vida minimizou as críticas aos colunistas eletrônicos e passou a focar as relações familiares. O roteiro enfatiza a desglamurização do dia-a-dia de um repórter de celebridades. E o próprio personagem central reafirma a todo momento que sua profissão é tão árdua quanto outra qualquer, que impedem que se fique com a família nos momentos de lazer.
A despeito das mudanças, permanece a implacável caricatura de Amaury Jr, com destaque para as gafes que Horácio comete ao entrevistar as celebridades. Luiz Fernando Guimarães às vezes parece se confundir com o personagem, tamanha interação.
Se no início o casal vivia às turras com os problemas ?pós-casamento?, desta vez a relação entre os dois está menos conturbada. Silvana, a personagem de Maria Clara Gueiros, deixou de apenas discutir com o ex-marido a pensão ou a divisão de bens para tentar um relacionamento mais amigável. Ao lado do filho Hélio, até arriscam um jantar em família, com a presença do muito jovem namorado de Silvana.
A produção manteve média de 22 pontos nas duas primeiras exibições, superior aos 18 pontos aferidos na estréia da primeira temporada. Para uma sexta-feira à noite são índices considerados satisfatórios e previsíveis. A surpresa e grande achado continua sendo a atuação de Maria Clara Gueiros, ?emprestada? do humorístico Zorra Total. A atriz lida com o humor com muita facilidade e tem um ?timing? perfeito para a comédia, o que contribui para o sucesso da produção.
O texto de Alexandre Machado e Fernanda Young ainda segue a linha moderna e conta com a direção cuidadosa de José Alvarenga Jr. O programa se voltou para a classe média e os roteiristas enfatizaram esse perfil. Mais ação e menos exagero – embora ainda conserve momentos ?pastelões? – dão o tom de Minha nada mole vida. Assistir ao programa leva a crer que a família moderna é a separada.