O escritor português José Saramago, que morreu hoje aos 87 anos, sofria de graves problemas respiratórios, informou o jornal português Diário Econômico. A informação da morte, divulgada pelo site do jornal espanhol El País, foi confirmada pelo editor do autor, Zeferino Coelho. O editor disse, segundo o site do jornal português Público, que Saramago morreu em sua casa, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Coelho informou que a saúde do escritor havia piorado nos últimos meses, por causa de uma doença. Ele não deu mais detalhes.
Nascido em 1922, em Azinhaga, no Ribatejo, a 100 quilômetros de Lisboa, o autor recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. O El País lembra em seu site que Saramago teve origem humilde, sendo forçado a abandonar a escola e trabalhar desde cedo para ajudar a família. Saramago foi um homem franco e muitas vezes irritável, contrariando muitas pessoas. Após uma confrontação pública com o governo português, em 1992, mudou-se no ano seguinte para as Ilhas Canárias, onde vivia desde então.
Desde a década de 1980, era um dos escritores de maior êxito em seu país. Seus trabalhos já foram traduzidos para mais de 20 idiomas. “As pessoas costumavam dizer sobre mim: ‘É bom, mas é um comunista’. Agora dizem: ‘É um comunista, mas é bom'”, brincou o escritor, em entrevista à Associated Press em 1998.
Entre os livros de Saramago estão “O evangelho segundo Jesus Cristo”, que despertou fortes críticas do Vaticano, além de “Ensaio sobre a Cegueira” e “A jangada de pedra”. Sua última obra é “Caim”, publicado em 2009. Em alguns momentos, Saramago chegou a ser comparado com outro ganhador do Nobel de Literatura, o colombiano Gabriel García Márquez, pois alguns viram no europeu uma pitada do realismo mágico latino-americano, particularmente na estratégia de mesclar personagens fictícios e históricos.
O crítico português Torcuato Sepúlveda notou que Saramago “buscou reconciliar o racionalismo de sua visão materialista com a riqueza do estilo barroco”. Outros discordavam da comparação, considerando Saramago um escritor demasiado intelectual e que seu ritmo narrativo se diluía na monotonia, pois seu uso parco da pontuação confundia o leitor. Saramago tinha um remédio: “Digo a eles que leiam meus livros em voz alta e então tomarão o ritmo, porque isso é ‘oralidade escrita’. É a versão escrita do modo em que a gente se conta contos.”