Sapatilhas contra a exclusão

O tradicional Studio D acaba de abrir uma turma masculina, para incentivar os garotos a calçar as sapatilhas, nas modalidades balé clássico e street dance. São nove meninos que vivem no Lar Hermínia Scheleder, instituição ligada à Igreja Presbiteriana. Além de oferecer a bolsa de estudo, a escola investe no corpo docente. Os professores são Eládio Prados (street dance) e Hugo Delavalle (clássico), coreógrafo há 58 anos, que já passou por companhias como o Stuttgardt Ballet, da Alemanha.

“Faz tempo que queríamos tirar esse projeto do papel, mas nos faltava patrocínio. Na verdade ainda falta, mas estamos com uma situação um pouco mais equilibrada, e percebemos que se não fizéssemos agora e por conta própria a coisa não saía”, conta Thatiana Vianna, professora e coordenadora da escola.

A idéia surgiu da necessidade de formar alunos, diante da absoluta escassez de meninos matriculados no balé. Para se ter uma idéia, o Studio D possui mais de 600 alunas e apenas quatro garotos, também bolsistas. Para Thatiana, mais do que o preconceito em si, é a desinformação e o medo de ser alvo de ironias que dificulta o ingresso dos garotos nas escolas de dança. “É uma questão de visão da sociedade”, lembra a professora. “As meninas hoje jogam futebol e ninguém questiona a feminilidade delas”. “Alguns meninos dizem que balé é coisa de menina…”, admitem os bolsistas. “Mas a gente sabe que é coisa de menina e de menino, e que é bom para crescer, desenvolver a musculatura, ensina a pular e saltar”. A escola lembra que o bailarino é ao mesmo tempo um artista e um atleta, que requer força física, habilidade, expressão e postura diferente daquelas das mulheres.

“Não houve pré-seleção no Lar Hermínia Scheleder. Convidamos as crianças para conhecer a escola, exibimos um vídeo e oferecemos uma apresentação dos quatro alunos que já freqüentam as aulas. E esses nove se mostraram interessados”, revela Thatiana. Ela acredita que esse contato com outros meninos, com os professores e com ídolos da dança ajudou a derrubar qualquer preconceito.

“Muitas vezes – acrescenta Thatiana – são as famílias de mais posses que não vêem com bons olhos, menos pelo preconceito do que por achar que seja uma atividade que não dá dinheiro. Já as pessoas de classes menos favorecidas acabam vendo o balé como uma possibilidade de mudar de vida e ter uma profissão rentável”.

Campo Mourão investe na dança masculina

Iniciativas para estimular a formação de bailarinos não são priovilégio da capital do Estado. A Academia Municipal de Balé de Campo Mourão lançou no último sábado o projeto DIM (Dança Integrada Masculina), que pretende atender e formar rapazes de 14 a 21 anos “que gostam de dançar e queiram se aperfeiçoar nessa modalidade artística”, conforme descreve a Fundação Cultural do município.

As aulas serão gratuitas e ministradas sempre aos sábados, das 14 às 17h, na Academia Municipal, que funciona na Casa da Cultura. Serão ofertadas inicialmente 30 vagas. A coordenação será da bailarina Samantha de Andrade, e os módulos ministrados por diferentes profissionais. A formação incluirá jogos de motivação, conscientização corporal, ritmo corporal, acrobacias, condicionamento físico, anatomia, dança de rua, contemporânea e outras atividades.

“O trabalho busca uma formação abrangente, mas que seja também pertinente à dança clássica, cujos fundamentos e práticas básicas serão abordados” explica Samantha. Os interessados podem solicitar maiores informações na Academia Municipal de Ballet ou pelo telefone (44) 525-1144, ramal 346.

Mostra de Dança em Floripa

Em meio ao fogo cruzado entre os profissionais da dança e da Educação Física, Florianópolis prepara a sua 10.ª Mostra de Dança, que acontece de 18 a 22 de junho. A Fundação Cultural da capital catarinense recebeu 197 inscrições e analisou mais de 600 coreografias de bailarinos, companhias e grupos de todo o País, em diversas modalidades. Só do Paraná se inscreveram 21 grupos ou companhias.

Foram selecionadas 65 coreografias, assim distribuídas: 50 grupos apresentam 54 trabalhos na Mostra Oficial, enquanto 10 companhias apresentam 11 coreografias na Mostra Paralela.

Os selecionados para a Mostra Oficial receberão cachês variando de R$ 200 (um solo), a R$ 1 mil (duas ou mais coreografias), além de estadia, alimentação e transporte, para os não residentes em Florianópolis.

A Mostra não é competitiva, e visa a “valorizar e estimular a dança local, mantendo o intercâmbio com profissionais de todo o País e do exterior, além de apresentar o panorama atual da dança profissional”. Mais informações pelo telefone (48) 324-1415.

Dança x Educação Física

Outro problema que está tirando o sono dos profissionais da dança no Brasil é o cabo-de-guerra com o Conselho Federal de Educação Física e suas regionais. Esses organismos estão exigindo a filiação de academias e profissionais, ou que estes sejam graduados em Educação Física, partindo do pressuposto de que a dança é uma “atividade física”.

Alunos, profissionais e re-presentantes de companhias e academias reagiram com a manifestação pública Dia D da Dança, que mobilizou milhares de pessoas em todo o País. O evento hipotecou apoio ao projeto do deputado federal Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP), que isenta a dança, as artes marciais e modalidades como a Yoga, professores e academias da fiscalização dos órgãos que representam a Educação Física.

No Paraná o movimento apóia também a iniciativa do deputado Ângelo Vanhoni, que apresentou emenda que visa a “disciplinar o funcionamento de clubes, academias, escolas de iniciação desportiva e outros estabelecimentos que ministrem atividades físicas, desportivas, recreativas e de lazer”.

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