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Santoro aposta na delicadeza de ‘Klaus’

Rodrigo Santoro é veterano nesse negócio de dublagem de animações. Lá atrás, em 1999 – há 20 anos -, ele forneceu sua voz ao pequeno Stuart Little – lembram do ratinho adotado pela família de Geena Davis e Hugh Laurie no mix de animação e live action de Rob Minkoff? Stuart Little fez tanto sucesso que, em 2002, surgiu o 2, e lá estava de novo Rodrigo dublando o ratinho. Depois, em 2011 – ele já era um astro internacional, com carreira em Hollywood -, veio o fenômeno “Rio”, a animação com que Carlos Saldanha exaltou as cores do Brasil para o mundo. Aí não era só aquela coisa de fornecer a voz, depois do filme pronto. “O processo foi inverso, eu gravava e os animadores iam criando em cima. Foi muito intenso, muito bonito, porque o Carlos era apaixonado pelo personagem e eu terminei sendo a guia para que o Blu tomasse aquele formato. Até hoje sinto o Blu, uma arara azul, como um personagem do qual sou muito próximo.”

E aí veio o convite da Netflix para fazer as dublagem de “Klaus”. A animação de Sérgio Pablos já está – desde sexta, 16 – na plataforma de streaming. A lenda da criação do Natal. O Klaus do título refere-se a Santa Claus, o Papai Noel do Hemisfério Norte. É um carpinteiro que vive isolado num lugarejo gelado próximo do Círculo Ártico. É para esse lugar que vai Jesper, um sujeitinho atrapalhado que conseguiu ser o pior estudante da academia postal. Por isso mesmo, foi locado nesse posto de fim do mundo, onde as pessoas quase não se falam, que dirá escrever cartas. O Correio é uma loja vazia. Jesper parece condenado à solidão, mas encontra uma aliada na professora, Alva. Descobre a misteriosa oficina de Klaus, cheia dos brinquedos que ele faz com as próprias mãos. Só será necessário um ‘clique’ para que o Correio comece a funcionar, as crianças enviem cartas com pedidos que serão encaminhados a Klaus e aquele homenzarrão imenso, de barbas brancas, vire o Papai Noel das fantasias natalinas.

Quando recebeu a proposta de dar voz a Jesper, Rodrigo Santoro imediatamente ficou seduzido pelo que define como “delicadeza” do projeto. “A gente está vivendo uma época tão confusa, de tanto antagonismo, tanto ódio, que eu achei muito bacana uma fábula de amor, de solidariedade. Klaus, o filme, é isso. O Jesper parece não ter espaço no mundo. Faz tudo errado, provoca mil confusões, mas no fundo ele quer acertar. Não dá para não pensar na atual situação do mundo. Tanta gente abandonada, desempregada, subempregada. Gente condenada a duvidar de si, a não se achar nada. Achei linda a história do sujeito que acha seu lugar no mundo. Quem não quer?” Rodrigo estava nos EUA, num intervalo das gravações da nova série, Reprisal, que estreia em dezembro. Aproveitando um fim de semana de folga, trancou-se no estúdio. Tinha dois dias, terminou fazendo em três. “Dublagem é aquela coisa solitária. Você ali, fechado, tentando se adaptar a um tempo, a um ritmo que foi definido antes.”

No original, Jesper fala com a voz de Jason Schwartzman – Klaus é dublado por J.K. Simmons e Alva, por Rashida Jones. “Traduzindo para o português, as frases ficam maiores, por causa dos tempos dos verbos e muitas coisas mais. E eu tentando ser sucinto. Você me conhece, sabe que sou perfeccionista. Felizmente tive um diretor de dublagem que foi muito solidário.” Algo ainda se passou na vida de Rodrigo Santoro, recentemente. É pai de uma menina de dois anos. “Pensava nela enquanto fazia o trabalho. Aliás, fazer o trabalho me roubou algumas horas com ela. A Nina ainda não viu o filme, só algum material, enquanto eu estudava para o papel – porque é um papel, exige concentração, dedicação, entrega. E o que viu ela gostou. Estou bem feliz.

Ele conversa com a reportagem num hotel de luxo da Av. das Nações Unidas. Está de barba, grisalho, com o visual da série. Havia chegado dos EUA e voltará para o lançamento de Reprisal, mas logo virão as férias (antes da segunda temporada), e Rodrigo vai fazer o que gosta – surfar. Segue de longe o que se passa no Brasil. “Torço para que tudo dê certo, mas tenho a mesma perplexidade das pessoas ao meu redor. Frequento um meio de artistas, de criadores. São pessoas sensíveis, que acreditam na diferença. É sempre um espanto ver tanta agressividade, tanto ódio, essa necessidade de criar um clima de antagonismo. Klaus vai na contramão. Afeto, delicadeza. Estou dentro.”

Busca da perfeição move Boaventura e a ‘linda’ Fernanda

Você não acredita na agenda de Daniel Boaventura. Esse cara mal terá tempo de respirar nos próximos meses. Tem uma agenda repleta de shows no México, na Rússia. Agora, está relaxado. Adorou fazer o Klaus. “Passei uma fase importante da minha vida no interior dos EUA, então esse clima de Natal, de neve, mexe comigo. O Klaus original é o J.K. Simmons, com aquela voz de barítono. Tenho a maior admiração por ele, que ganhou aquele Oscar por Whiplash. Como é mesmo o título? A Busca Pela Perfeição. Quem é que não busca?”

Embora jovem, Fernanda Vasconcellos, que dubla Alva, é uma veterana da Netflix. Fez as séries Coisa Mais Linda, 3%. Foi um desafio a solidão do estúdio de dublagem. No cinema, fez o Boca de Ouro de Daniel Filho. Nelson Rodrigues! A grã-fina. “Gostei demais”, diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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