Sam Fuller ganha retrospectiva no CCBB

Sam Fuller tinha mais de 60 anos – 63 – quando sua única filha nasceu, em 1975. Samantha Fuller guarda até hoje, como relíquia, a carta emocionada que François Truffaut escreveu a seu pai, exaltando a força transformadora da paternidade na vida de um homem. Ídolo da geração de críticos que fundou a nouvelle vague, Fuller tornou-se uma lenda ainda em vida. É famosa a cena de Pierrot le Fou, O Demônio das Onze Horas, de Jean-Luc Godard, de 1965, em que ele compara o cinema a um campo de batalha e diz que seu ingrediente essencial é a emoção.

Samantha Fuller conversa com a reportagem pelo telefone. Ela vive em Los Angeles e, neste momento, briga com a ausência de fundos para poder concluir um documentário sobre seu pai. Fuller tinha um sonho – queria chegar aos 100 anos para comemorar a data (12 de agosto de 2012) com uma grande festa. Não chegou a tanto – morreu em 1997, aos 85 anos. Mas a festa, de alguma forma, se realizou. Samantha mantém o escritório de seu pai intacto. Os amigos – Wim Wenders, Jim Jarmusch – vieram, sentaram-se na poltrona de Sam, fumaram um charuto, tomaram um drinque (uísque ou conhaque) em sua homenagem, e Samantha filmou tudo.

Ela gostaria de estar no dia 20 em São Paulo – onde começa, no Centro Cultural Banco do Brasil, a retrospectiva dos 24 filmes que compõem a filmografia completa do autor – do artista. “Infelizmente, não posso ir, mas gostaria de estar aí para apresentar cada um dos filmes. Posso parecer obsessiva, mas não me canso de revê-los. Tenho a impressão de conhecer mais e mais meu pai, a partir de sua obra. Meu pai fez filmes de gêneros fortes, viris – westerns, policiais, filmes de guerra. Mas eu percebo como ele se desdobra nas personagens, e não apenas homens.

Mulheres, também. As mulheres de meu pai são fortes, como ele.”

Um bom exemplo é a Barbara Stanwyck de Dragões da Violência (Forty Guns), um dos três filmes de ação que Fuller fez em 1957 – com No Umbral da China e Renegando o Meu Sangue, onde luziam duas outras mulheres de estirpe, interpretadas por Angie Dickinson e Sarita Montiel. Mas a mulher fulleriana, por excelência, o repórter arrisca, é Constance Towers. “Ah, Constance! Os filmes que meu pai fez com ela, como Paixões Que Alucinam e O Beijo Amargo (de 1963 e 64) estão entre os meus preferidos”, ela diz. E acrescenta, como confissão: “Mas gosto mesmo é de um filme pelo qual as pessoas não têm tanto apreço, Cão Branco (de 1982).”

SAMUEL FULLER – CCBB. Rua Álvares Penteado 112, centro de São Paulo, 3113-3651. De 20 a 31/3. R$ 4 (sessões em DVD, grátis) – www.bb.com.br/cultura

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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