Salve geral, o filme brasileiro escolhido para representar o Brasil na luta por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, é uma das estreias mais aguardadas deste fim de semana nos cinemas de Curitiba.
A produção, dirigida por Sérgio Rezende e estrelada por Andréa Beltrão, aborda os conflitos ocorridos em São Paulo em maio de 2006 a partir de uma mobilização promovida pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).
É provável que Salve geral seja avaliado menos por suas virtudes ou defeitos cinematográficos que por suas implicações éticas e políticas. Sérgio Rezende devia saber que estava mexendo com caixa de marimbondo, porque falar dos ataques do PCC em São Paulo no Dia das Mães de 2006 é colocar o dedo em ferida aberta.
Todos sabem que São Paulo é uma cidade violenta e que vive mais ou menos à mercê de bandidos. Mas como, diferentemente do Rio, São Paulo ainda consegue manter zonas “higienizadas”, este fato foi sempre mantido sob silêncio. Naqueles dias terríveis de maio essa mitologia foi para o espaço.
Daí que, para ser palatável, Salve geral teria de fazer aquilo que sempre se pede para evitar -a transformação de personagens em caricaturas. E, além disso, seria preciso trabalhar com trama linear, óbvia, com encadeamentos lógicos e sustentados por uma causalidade simples.
Como a vida, e também a arte, são mais complexos, Rezende optou por outro caminho. Se o comportamento de Lúcia (Andréa Beltrão) parece errado, para entendê-lo será preciso levar em conta aquilo que move o desespero de tirar o filho da prisão.
Se os bandidos do PCC são vistos sob um ângulo um pouco mais multifacetado é porque seres humanos delinquentes também podem apresentar nuances de personalidade. O fato de temê-los não pode embotar nossa inteligência a ponto de simplificá-los para que pareçam mais previsíveis do que na realidade são.
Também não fica bem mostrar as más condições da vida carcerária e vê-las como possíveis focos de rebelião. Ou de mostrar cenas de corrupção policial. Ou seja, decidimos que há coisas de que podemos falar e outras que será melhor empurrar para debaixo do tapete. Salve geral prefere expor a sujeira. Mesmo porque não é escondendo o lixo que se faz a faxina da casa.