Salão de Ideias discute legado de Saramago na Bienal

“Não queria estar na pele da Pilar quando eu desaparecer, mas de toda a maneira vamos ficar perto um do outro, as minhas cinzas vão ficar debaixo da pedra do jardim.” A voz do escritor português José Saramago soa rouca, mas resistente, assim como seu olhar compenetrado. A imagem é captada pela câmera do cineasta Miguel Gonçalves Mendes que, durante três anos, filmou a rotina do prêmio Nobel de Literatura de 1998 e que resultará no documentário “José e Pilar”. Saramago morreu no dia 18 de junho e seu legado será discutido hoje, a partir das 19 horas, no Salão de Ideias da 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

Mendes é um dos convidados, ao lado do escritor João Marques Lopes, autor de “Saramago” (248 páginas, R$ 39,90), biografia recentemente lançada pela editora Leya; e de Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, que lançou boa parte de sua obra no País, cultivando uma relação de extremo carinho, a ponto de Schwarcz ter hospedado Saramago em sua casa em diversas oportunidades.

A mesa, que terá a mediação do jornalista Manuel da Costa Pinto, deverá se ocupar com reminiscências. A escrita árida, sem pontuação, e os temas marcantes, como o enfrentamento com a religião, certamente estarão na pauta, mas o Saramago que vai surgir na conversa terá mais o perfil do amigo que do escritor. “Sem ser pejorativo, o filme é uma espécie de Big Brother da vida de José Saramago”, disse Mendes em Paraty, durante a recente Flip, quando apresentou 40 minutos de seu filme. “Desde a ideia que ele teve para seus livros até o fim, acompanhando uma fase muito má da vida dele, quando adoeceu.”

As rupturas literárias também serão lembradas. Em sua biografia, Lopes reproduz o momento em que Saramago, enquanto escrevia “Levantado do Chão” em 1979, encontra seu caminho. “Quando ia na página 24 ou 25, e talvez seja esta uma das coisas mais bonitas que me aconteceram desde que estou a escrever, sem o ter pensado, quase sem me dar conta, começo a escrever assim: interligando o discurso direto e o indireto, saltando por cima de todas as regras sintáticas ou sobre muitas delas.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Tributo a José Saramago – Bienal do Livro/Salão de Ideias. Pavilhão do Anhembi (Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana). Hoje, 19h. Ingresso: R$ 10.

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