Sai em DVD ‘Os Visitantes’, de Elia Kazan

Quando esteve em São Paulo, para participar da homenagem a Elia Kazan na Mostra, a viúva do grande diretor, Frances Kazan, contou como ele ficou devastado, em 1991, com a morte de seu filho Chris, vítima de câncer. Chris era romancista. Escreveu o roteiro de “Os Visitantes”. O pai o incentivou a realizar o filme, mas Chris foi definitivo – havia escrito “Os Visitantes” para Elia dirigir. Ele o fez, segundo condições inéditas em sua carreira.

No começo dos anos 1970, Kazan já havia ganhado seus dois Oscars de direção – por “A Luz É para Todos”, em 1947, e “Sindicato de Ladrões”, em 1954 – e, no teatro e no cinema, adquirira a reputação de ‘grande’. Mas ele não havia ficado nem um pouco satisfeito com “Movidos pelo Ódio”, que adaptou do próprio romance, “The Arrangement”, em 1969. Kazan queixava-se da interferência do estúdio, dizia que as coisas estavam escapando ao controle em Hollywood. O filme teve os custos inflacionados. Custou US$ 6,9 milhões – hoje, não sairia por menos de dez vezes mais -, e ele se queixava de que na tela estava apenas US$ 1,8 milhão, por aí.

Assim como tentou incentivar o filho, Kazan incentivara a segunda mulher, a atriz Barbara Loden – de “Clamor do Sexo”; fazia a irmã de Warren Beatty – a também se tornar diretora. Ela fez um filme que virou cult, “Wanda” (e morreu prematuramente, de câncer). Kazan desempenhou vários papéis na equipe de produção de “Wanda”. Ele chegou a dizer que reaprendeu com Barbara o que era o cinema. Repetindo a ex-mulher, fez “Os Visitantes” com baixo orçamento e equipe reduzida, em super-16. E filmou no inverno, debaixo de neve, sem o conforto de trailers para seus atores e técnicos. Passou frio com eles. O importante era o calor humano, a integração da equipe.

“Os Visitantes” é sobre esses dois soldados do Vietnã que chegam à casa de um antigo colega. Eles estiveram presos – por atrocidades cometidas na guerra. Chegam para se vingar de quem os denunciou. No livro com a entrevista que deu ao crítico Michel Ciment, Kazan observa que Chris era bom com as palavras. Diz que ele tinha a visão global do filme e o impregnou de símbolos.

Michel Ciment escreveu dois livros de entrevistas – um sobre Kazan, outro sobre Joseph Losey. Foram reeditados na França, num volume único. Nasceram no mesmo ano, foram comunistas na juventude, começaram quase ao mesmo tempo a dirigir para teatro e cinema. Mas, no macarthismo, foram opostos – Kazan colaborou; Losey reagiu (e se exilou na Inglaterra). Em 1972, Losey presidia o júri do Festival de Cannes, Kazan concorria com “Os Visitantes”. Alguns jurados queriam premiar Kazan. Losey usou seu veto – mas ele disse a Ciment que considerava a realização do filme ‘marcante’. Até por isso, é um filme que vale (re)descobrir. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os Visitantes

Direção: Elia Kazan

Elenco: Patrick McVey, Patricia Joyce, James Woods

Distribuição: Lume (R$ 39,90)

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