Houve três versões da história do motim a bordo do Bounty. A história é real – em 1750, essa embarcação da Marinha real inglesa voltava de uma expedição à ilha de Otaheite, no Taiti, onde fora buscar sementes de árvores frutíferas, especialmente da fruta-pão, quando a tripulação se sublevou, revoltada com os excessos a que era submetida pelo autoritário capitão Bligh. “O Grande Motim” é a primeira das três versões. Realizada nos anos 1930 por Frank Lloyd, ganhou o Oscar de melhor filme, mas não levou o prêmio de direção. “O Grande Motim” está sendo lançado em DVD pela Warner. É um dos melhores filmes já feitos sobre homens no mar.
Houve grandes vilões na história do cinema. Grandes tiranos, também. Ambos não querem dizer automaticamente a mesma coisa. Procure a definição de tirano no Aurélio: senhor absoluto usurpador do poder; governante injusto, cruel ou opressor, que abusa da autoridade; indivíduo impiedoso. No cinema, você não precisa procurar muito para ver quem se encaixa no perfil e agora menos ainda – não existe tirano maior do que o Capitão Bligh. Tudo o que ele faz – e que reverte em punição e sofrimento para seus comandados -, é baseado na crença de que seu poder, como o da monarquia, é divino e incontestável.
A versão de Frank Lloyd do motim a bordo do Bounty não tem o sentido da aventura e do erotismo da que Lewis Milestone fez com Marlon Brando e Trevor Howard nos anos 1960 (também intitulada “O Grande Motim”) nem a intenção claramente desmistificadora da de Roger Donaldson, com Mel Gibson e Anthony Hopkins, nos 80 (“Rebelião em Alto-Mar”). Mas é, de longe, a melhor das três. “O Grande Motim” é um filme de idéias, que até hoje nos atinge por sua consciência social.
O DVD traz extras como a participação de “O Grande Motim” no Oscar e uma visita às ilhas do filme, tal como são hoje. (Luiz Carlos Merten).