Bill Condon iniciou-se dirigindo filmes que impactaram os críticos, como Deuses e Monstros e Kinsey. Depois, assinou o volume final, subdividido em dois, da saga Crepúsculo,o que desconcertou muita gente, dada a ambição autoral de sua obra anterior. Bill Condon é um dos diretores que dão depoimentos no livro The Film That Changed My Life. O filme que mudou minha vida. Bill Condon cresceu no Queens, em Nova York, numa vizinhança católica irlandesa. O pai era um daqueles homens que não falavam de sexo. A mãe adorava teatro e o assunto volta e meia surgia na casa por meio dela. Condon sabia da existência de um movimento que havia irrompido (transformado?) o cinema na França, a nouvelle vague. E aí, em 1967, assistiu a Bonnie & Clyde e o filme de Arthur Penn deu-lhe a impressão de ser um experimento da nouvelle vague realizado na ‘américa’.

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Bonnie & Clyde, com o acréscimo brasileiro a seu título – Uma Rajada de Balas -, é o programa desta semana na série de clássicos restaurados da rede Cinemark. Passa no sábado, 8, e depois, no domingo, 9, e na próxima quarta-feira, 12. Para muitos espectadores jovens poderá ser uma descoberta – a primeira vez que vão ver Bonnie & Clyde no cinema, e não apenas em DVD ou na televisão. Condon não está errado em sua observação sobre o filme. Bonnie & Clyde foi escrito por Robert Newman e pelo futuro diretor Robert Benton com a expectativa de que o projeto interessasse a Jean-Luc Godard ou François Truffaut, mas quem terminou adquirindo o roteiro foi Warren Beatty, que chamou seu amigo Arthur Penn para a direção.

Penn e Beatty já haviam feito juntos Mickey One, um filme tão fora dos padrões hollywoodianos que foi um grande fracasso de público. E Penn tinha aquela reputação de ser o autor jovem que refazia à europeia o cinema clássico de Hollywood. Condon acrescenta que o tema do sexo que percorria/inundava Bonnie & Clyde mexeu com ele numa fase em que, muito jovem, fazia suas primeiras descobertas sobre o assunto. “Havia alguma coisa no filme com a qual me conectei de formas muito profunda. Uma tensão sexual que falava comigo de uma forma que não entendia.”

Talvez o jovem Bill Condon não quisesse entender, ou tivesse medo de entender, por que a ambiguidade sexual de Clyde e a forma como ele se relaciona com Bonnie e o garoto que incorporam ao bando remete ao tema da homossexualidade reprimida, ou da bissexualidade, que apareceu mais tarde em seu cinema. São meras suposições, mas a oportunidade de (re)ver o filme de Penn é única. Bonnie & Clyde foi um dos filmes mais influentes de Hollywood em seu tempo, um dos mais influentes dos transformadores anos 1960. Na Warner, alguém (o próprio Jack Warner?) disse que era ‘a piece of shit’ e, no The New York Times, o crítico Bosley Crowther, o mais prestigiado da época, foi pelo mesmo caminho.

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