Sacundin, sacunden acústico

Jorge Ben Jor tocou com praticamente todas as pessoas que escreveram a história da música brasileira. Os seus discos históricos dos anos 60 foram gravados ao lado do Copa 5, grupo liderado pelo saxofonista J. T. Meirelles. No final dessa mesma década, ele se uniu ao Trio Mocotó, grupo que disseminou a linguagem samba-rock (que Ben Jor definia como “sacundin sacunden”) para São Paulo. O artista ainda foi acompanhado pelo Admiral Jorge V (do qual o baixista Dadi Carvalho e o baterista Gustavo Schroeter saíram para formar A Cor do Som) e pela Banda do Zé Pretinho, que até hoje segue com Jorge Ben Jor. Para a gravação do Acústico MTV, foram re-quisitados estes dois grupos. A estes juntam-se os sopros de Serginho Trombone, Bidinho (trompete) e Leo Gandelman (saxofone e flauta), além do oboé de Carlos Prazeres (integrante da Orquestra Sinfônica Brasileira e filho do maestro Heitor dos Prazeres), cordas e o coral afinado dos Golden Boys. Há quem possa sentir a falta deste ou daquele convidado (ou discípulo), mas essa opção acabou por tornar o som dos álbuns mais coeso.

“O Admiral Jorge V ficou responsável pelas canções do primeiro CD. O grupo faz uma viagem de treze anos pelo universo de Jorge Ben Jor: começa de 1963, com Balança Pema, do clássico Samba Esquema Novo (e que Marisa Monte regravou no álbum Cor de Rosa e Carvão, de 1994), e vai até Roberto, Corta Essa, a satírica faixa de Jorge Ben Brasil, de 1986. Entre essas duas fases, escondem-se autênticas pérolas. É o caso de Comanche, faixa do álbum Negro é Lindo, de 1971, e uma das prediletas dos bailes de samba-rock de São Paulo. “Se eu não tocar essa, o povo do samba-rock me mata”, revela Ben Jor. Ou então Jorge de Capadócia, canção que virou uma espécie de oração para a garotada do rap (os Racionais a releram no seminal álbum Sobrevivendo no Inferno, de 1997) e até pelos artistas da nova geração do pop nacional. Marcelo Yuka, letrista d’O Rappa revela que esta canção não saiu de sua cabeça quando foi alvejado a tiros por uma gangue, há dois anos. “Enquanto eu era levado pela ambulância em direção ao hospital, pensei que tinha de fazer alguma oração. Escolhi Jorge de Capadócia”, revela o baterista e letrista do quinteto carioca. Outra canção lendária na história d’O Rappa é Take It Easy, My Brother Charles, faixa de Jorge Ben, de 1969, e que foi coverizada no disco de estréia do grupo carioca. Ben, álbum lançado em 1972, comparece com a gaiata O Namorado da Viúva e O Circo Chegou.

O segundo disco tem participação da Banda do Zé Pretinho. É hora de conferir o brilho do baixista J. J. Lucrécio, a bateria de Eduardo Helbourn e a verve sambística do pianista Lory César e de Neném da Cuíca. Também investe na mistura das diferentes fases da carreira de Ben Jor. São os casos de Mas, Que Nada, Por Causa de Você, Menina e Chove, trinca matadora de Samba Esquema Novo. O clássico A Tábua de Esmeralda, que Ben Jor acredita ser o grande disco de sua carreira ao lado de Solta o Pavão, lançados, respectivamente, em 1974 e 1975 – comparece com Menina Mulher da Pele Preta e Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas, outras faixas que garantem a pista cheia nos bailes brasileiros dedicados ao samba-rock. Jorge Ben, discaço de 1969, comparece com Que Pena (Ela Já Não Gosta Mais de Mim) – também gravada pela cantora Gal Costa – e País Tropical. Ben cede de lambuja as faixas de encerramento do CD, Filho Maravilha (née Fio Maravilha) e Taj Mahal. Para os que reclamam da inclusão de W/Brasil (Chama o Síndico) e Spyro Gyro, faixas relativamente novas na discografia de Jorge Ben Jor, vale o aviso. O disco que as gerou (Ao Vivo no Rio) encontra-se atualmente fora de catálogo. Então, nada mais justo que deixar esses registros.

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