Russell Crowe é estrela no longa ‘Noé’

Desde que se entende por gente, Russell Crowe sempre gostou de animais. Assim que o diretor Darren Aronofsky lhe propôs o personagem de Noé, com sua arca cheia de bichos, Crowe imediatamente se imaginou cercado pelos animais, dos mais mansos aos mais selvagens. Desapontou-se. “Houve pouquíssimas cenas com animais de verdade. Na maioria das vezes foram digitalizados.” Foi uma das confissões que o astro de Gladiador fez no Rio, quando veio lançar o épico bíblico de Aronofsky.

Muito do que ele disse já foi amplamente divulgado. Crowe reclamou do caos do tráfego do Rio, elogiou o papa Francisco – que o recebeu em Roma, antes de sua etapa brasileira na divulgação de Noé. O filme entrou na lista de obras proibidas nos países árabes. Aronofsky trata Noé como um profeta e você sabe que, no mundo árabe, Maomé é o único profeta. Crowe lamenta – “O debate religioso é essencial no filme. Ajudaria muito a eliminar o abismo entre religiões se as pessoas, pelo menos, tivessem noção daquilo em que os outros creem, ou veneram.”

Para o ator, a história de Noé não é exclusiva da Bíblia. “Noé é personagem de histórias infantis, a geografia e arqueologia também falam do dilúvio. Não é só mitologia. Existem evidências de que realmente tenha ocorrido.” Acredita que a maneira mais saudável de olhar para Noé é não se ligando a nenhuma religião em particular. “Noé é fascinante. Sua vida tem a ver com a própria existência da humanidade.” Seu Noé é um personagem trágico, bem diferente do acento cômico que lhe imprimiu o ator e diretor John Huston em A Bíblia – No Princípio. “Como toda figura real ou imaginada, Noé comporta múltiplas visões. O Noé de Huston era um intervalo cômico num épico bíblico. Na versão de Darren (Aronofsky), ele ocupa a história inteira. Possui um arco dramático completo.” O repórter quer saber se Aronofsky alguma vez comentou com ele o Fausto de Alexander Sokurov? Quando presidiu o júri do Festival de Veneza, em 2011, Aronofsky atribuiu o Leão de Ouro ao autor russo. Crowe quer saber o que isso tem a ver com Noé? Fausto conta a história de um homem que vende a alma ao Diabo. Noé é sobre outro homem que vende a alma a Deus. E ambos se tornam radicais. Noé chega a se voltar contra os filhos, ameaça matar a descendência em nome do acordo que firmou com Deus.

Crowe não desconsidera a comparação, mas diz que Noé é um projeto antigo de Aronofsky, desde que o futuro diretor era garoto e estava num hospital. Noé tornou-se tão importante para ele – uma obsessão – que Aronofsky criou uma graphic novel (com Ari Handel), que terminou sendo sua grande referência para o filme. Noé estourou o orçamento, que já era elevado para os padrões do diretor.

Os executivos do estúdio (Paramount) passaram a pressioná-lo e foram feitos vários testes de público para chegar a uma versão ‘palatável’. Mesmo assim, não deu. As reações no mundo árabe o confirmam.

O astro absolve o diretor pelo estouro. “Choveu durante 36 dias, quase tanto quanto os 40 do dilúvio. Ninguém previa isso.” Há duas semanas, quando foi entrevistado pelo repórter, Crowe também não podia prever que Noé ia estrear tão bem nos EUA, faturando US$ 43,5 milhões no primeiro fim de semana. Mas o ator já avaliava. Do sucesso de Noé – e da versão do Êxodo por Ridley Scott, com Christian Bale como Moisés – vai depender a continuidade do atual boom de superproduções bíblicas em Hollywood. Noé estreia no Brasil em 1.015 salas, sinal de que a Paramount aposta no sucesso. O filme sai em versões 2D e 3D. Quase todas as salas do segundo formato (509) estão ocupadas por Rio 2, de Carlos Saldanha, que estreou na semana passada. E na semana que vem entra Capitão América 2, de novo disputando o mercado 3D. Os filmes vão engavetar.

A pergunta final – Russell Crowe estreia na direção com The Water Diviner. Ele já disse que achava que tinha a melhor profissão do mundo (ator), mas dirigir é melhor. Por quê? “Como ator, você é uma ferramenta para expressar a visão do outro. Como diretor, é o autor, pode expressar-se na tela.” Como está sendo a experiência? “Só o que posso dizer é que tenho o DNA do cinema no sangue.” Explique, Russell. “Tenho primos que são famosos esportistas na Nova Zelândia, mas meu pai e avô foram ligados ao cinema, como caterer e fotógrafo. O cinema sempre fez parte da minha vida.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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